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22 de Dezembro de 2021

Não, não é nenhuma premonição sobre a pandemia, nem sequer um evento político ou um espetáculo.

É antes um desafio diferente... Nas noites frias e claras de inverno, de preferência longe das luzes citadinas, observemos o céu noturno. Noturno!... pois só com o sono do Sol, se revelam as estrelas, suas irmãs.

Ao longo dos séculos, fomos conhecendo o leque de fascinantes planetas, luas, cometas e meteoros que coabitam o Sistema Solar, com toda a sua beleza e mistério. Assim, não é difícil imaginarmos que cada uma dessas estrelas pode representar diversidade e excentricidade.

Continuando com o desafio, imaginemos agora muitas estrelas, muitas mesmo, um número seguido por uns onze zeros. Eis então a dimensão aproximada em estrelas de uma só galáxia como a nossa, a Via Láctea. Deixemos a imaginação ainda mais à solta, e imaginemos um número ainda maior, mais cerca de doze zeros… Teremos então o número estimado de galáxias do universo conhecido e observável. O número total de estrelas é colossal!

E nesse universo vemos as coisas mais belas e estranhas. A poeira espacial agrega-se para nascerem estrelas, onde a gravidade é tal que acende a fornalha da luz. Depois, cria planetas, luas e tudo o resto. E ao morrerem, fecha-se a luz em buracos negros e outras “criaturas” celestes que a nossa imaginação empírica tem dificuldade em perspetivar. Tudo em dinamismo permanente onde, nem o tempo tem amarra curta, e é distorcido pelos caprichos da gravidade.

Em boa verdade, tudo isto já foi há muito postulado. No século XVI, o frade dominicano Giordano Bruno imaginou um universo em que a Terra orbitava o Sol e, como a Terra, havia outros planetas a orbitar outras estrelas. A Terra deixaria, segundo ele, de ser o centro absoluto do Universo. Em 1600, Bruno acabou condenado e morreu na fogueira da Inquisição romana… A Inquisição acabou e houve finalmente liberdade para que, génios como Newton, Einstein ou Hubble, com as suas fórmulas matemáticas, pudessem propôr tudo o que agora conhecemos. Mas, por natureza, somos incrédulos e foi preciso Ver para Crer.

E é aqui que quero chegar.

Foi esse o legado do telescópio Hubble… Em milhões de fotos tiradas durante 30 anos, mostrou, em cores, o que as fórmulas matemáticas não vislumbram. Desde planetas reais a orbitar outras estrelas, de galáxias a fundirem-se e estrelas a serem sugadas por buracos negros. A energia destes buracos negros a fazer brilhar galáxias, numa dança de morte e fascínio. Acima de tudo, imagens que acendem a imaginação das atuais gerações.

A 22 de Dezembro, na Guiana francesa, a NASA e a ESA europeia, preveem lançar outro foguetão Ariane para o espaço, transportando o sucessor do Hubble, o telescópio James Webb. Não terá lentes de dois metros como o Hubble, mas sim perto de sete metros, 100 vezes mais potentes. Não orbitará a 600 quilómetros sobre as nossas cabeças, mas três mil vezes mais longe, em zonas do espaço mais escuras e frias. Zonas ideais para colocar a sua tecnologia de infravermelhos a vasculhar tudo o que quisermos. E se tudo correr bem… e muita coisa pode correr mal, o seu legado será bem maior que o Hubble.

Fruto de vinte anos e dez mil milhões de euros de investimento, poderemos ver a atmosfera de planetas das estrelas mais próximas. Procurar a luz remanescente do Big Bang e compreender melhor o início do universo. Encontrar finalmente a matéria e energia escura que constituem 95% de tudo o que existe mas, por alguma razão, ainda não conseguimos identificar.

É claro que, como está na moda, podemos negar tudo isto e dizer que a Terra é plana, que tudo não passa de uma ilusão mas, como disse Stephen Hawking: “A realidade, mais tarde ou mais cedo, atropelará qualquer ilusão”!

Mesmo a Madeira, à sua dimensão, pode participar neste desígnio. Seja pelo projeto do Centro de Astronomia do Arieiro, aprovado no orçamento participativo no Funchal, seja de outras formas que façam uso dos céus pouco poluídos nesta parte do Atlântico.

Talvez encontremos algo de positivo nesta procura infindável. Talvez seja a esperança que nos falta nestes tempos de pandemia e de novos de hábitos. A história prova-nos que sempre superamos a adversidade para seguirmos em frente!