Separar o trigo do joio
Não será tempo de o Governo Regional profissionalizar a sua comunicação?
1. Mesmo com quase dois anos de pandemia há muita confusão no ar, muitas dúvidas sobre a doença provocada pelo vírus SARS-CoV-2 e muita desinformação replicada nas redes sociais por gente que tem tanto de ignorante como de egoísta. No país onde existem mais treinadores de bancada por metro quadrado do que entendidos na matéria, o ruído em torno deste flagelo é inimigo da serenidade esclarecida. E é disso que precisamos. Se é certo que não nos vamos livrar da covid-19 tão cedo, temos de saber viver com esta. E a melhor forma de o fazermos, protegendo a nossa saúde e a da comunidade, é estarmos vacinados, testarmo-nos e cumprirmos com as orientações da autoridade de saúde. Podemos questionar e contestar decisões tomadas pelo governo, que passa muitas vezes uma mensagem confusa, difusa e contraditória, mas não devemos, por isso, deixar de manter o foco no essencial, com discernimento. E o essencial não se compadece com palpites e estados de alma sobre a eficácia das vacinas e as medidas de protecção individual. A vontade da maioria não pode ser perturbada pelo desejo anarquista de uma minoria teimosa e pouco credível, que ignora o verdadeiro impacto que um novo confinamento pode gerar na nossa frágil economia. Basta olharmos para o que está acontecer em diversos países europeus e para os alertas da Organização Mundial de Saúde, para não querermos enveredar pelo mesmo caminho. Nenhum sistema de saúde aguenta nova hecatombe. Não se trata de excluir e muito menos de segregar minorias. Trata-se de preservar a saúde colectiva, que não conhece modas ou impulsos espúrios. A pandemia não é uma fraude! Basta olhar para os números e vermos em que posição da tabela está a Madeira a nível nacional.
2. Não há forma de o Governo Regional adoptar um sistema de comunicação eficiente e escorreito em situações geradoras de grande alarme social. Como é possível não ter percebido que a mensagem tem de ser clara e não deixar dúvidas nem interrogações aos destinatários, quando em jogo estão questões de saúde e de direitos individuais que alteram drasticamente o quotidiano? Não será tempo de o GR profissionalizar a sua comunicação, antecipando os impactos negativos que podem suscitar, em vez de lançar a confusão e andar depois a correr atrás do prejuízo? Em termos logísticos é também desastrosa a sua acção. Basta dar uma volta pelo centro do Funchal. ‘Começar a casa pelo telhado’ nunca foi bom presságio.
3. A mobilidade tem sido um dos maiores entraves na história do povo madeirense. Nunca os governos da Região nem da República conseguiram criar um modelo simples e justo que nos desse liberdade de movimento e circulação. A discussão em torno das tarifas escandalosas praticadas pela TAP nunca resultaram em nenhuma boa notícia. Andamos há anos a laborar no erro de sempre e na falácia da lei da oferta e da procura. O tão badalado princípio da territorialidade nunca se aplicou à Madeira e nunca causou nem causa a mínima preocupação aos sucessivos inquilinos do Terreiro do Paço.
A entrada da Ryanair na rota da Madeira, a partir do fim de Março do próximo ano, abriu uma janela de esperança, mas que será insuficiente, como depressa constataremos. E os madeirenses não podem estar reféns da estratégia comercial de empresas privadas que hoje estão mas amanhã podem não estar. É a TAP, que tem sugado milhões ao erário, que tem a obrigação de assegurar o serviço público. E é o governo do País que tem de encontrar uma solução duradoura e operacionalizar um modelo que acabe de vez com esta espécie de degredo em que nos encontramos. Lutem por esse compromisso de forma séria e definitiva, nem que para isso seja necessário um pacto de regime.