Método de avaliação antipedagógico usado na UMa
Em abono da verdade, a esmagadora maioria dos estudantes (do ensino superior ou mesmo do secundário) já terá tido contacto com este tipo de avaliação ou, pelo menos, será facilmente capaz de imaginar o que significa fazer um teste/exame com perguntas “a descontar”.
Consiste basicamente numa pergunta ou grupo de perguntas (normalmente de escolha múltipla ou de V/F) onde, cada resposta errada, para além de não nos dar décimas ou valores, nos retira pontuação que tínhamos conseguido em perguntas anteriores ou iríamos conseguir em perguntas posteriores. Extremamente justo, não é verdade?…
Já tentei colocar-me na pele do docente e perceber o porquê de avaliarem os alunos desta forma e, a bem dizer, a justificação parece-me clara: tirar da equação o “fator sorte” que iria beneficiar injustamente tantos alunos. Sim porque, não raras vezes, se não sabemos a resposta a uma pergunta que nos dá opções sujeitas a escolha aleatória, a verdade é que, aqui o admito, “fazemos uma lotaria” e arriscamos uma resposta “ao calhas”.
Faz sentido que o docente pense assim porque efetivamente, tem razões para isso, mas permitam-me agora mostrar o outro lado da questão (ao qual os docentes fazem questão de fechar os olhos, tristemente).
O que se sucede com as perguntas a descontar é essencialmente o seguinte: o fator sorte é eliminado e, ao mesmo tempo, o fator azar é adicionado.
Se analisarmos a questão a frio, facilmente percebemos que, o que é feito no sentido de evitar situações injustas, está concomitantemente a provocar situações injustas. A diferença é que a “injustiça” recai agora sobre o aluno, prejudicando-o gravemente.
Ficamos perante uma situação onde o aluno não está a ser avaliado de acordo com o que sabe mas sim de acordo com o que não sabe.
Analisemos o exemplo: conjunto de V/F’s onde cada resposta errada desconta uma resposta certa; Acertamos metade e erramos outra metade; Resultado final: 0 pontos.
Ou seja, acertámos metade da pergunta, mas a cotação é atribuída como se, literalmente, não percebêssemos nada do assunto.
Isto não faz o mínimo sentido do ponto de vista matemático, ético, ou do próprio senso comum. É atribuir a desculpa pueril da sorte aleatória para implementar métodos de correção que muito facilmente transformam o nosso 12 num 8 e resultam no chumbo do aluno.
O mais engraçado, é que este método nem previne completamente a questão do “responder ao calhar” e haverá sempre quem arrisque e acerte a pergunta apenas porque teve sorte…
O cúmulo da situação são as perguntas e alíneas com construções de frase e termos que são estrategicamente ali colocados no sentido de ludibriar o aluno e levá-lo a pensar X quando o pretendido era Y.
São perguntas valiosas e rebuscadas que, regra geral, se encontram incrustadas com rasteiras que levam ao engano baseado na trapaça fácil.
A avaliação poderia ser linear e objetiva: se o aluno sabe, é pontuado, se não sabe, não é. Simples. Prático. Justo.
Mas isto apenas poderia acontecer num hipotético mundo onde fosse permitido o simples e onde não houvesse lugar para estratagemas que só dão o 9,5 a quem tem conhecimentos para, pelo menos, um 15. É a Vida…
Este texto é uma crítica e uma dedicatória aos milhões e milhões de décimas e valores que, ao longo dos anos, nos têm vindo a ser burlados por quem faz questão de usar esquemas fáceis para exigir bem mais do que o essencial. Digamos que… temos de ter paciência e… dar o desconto, a maioria dos que ali na universidade dão aulas nem aprenderam a ser professores, só concluíram o doutoramento ou mestrado e ali caíram.
Joana Freitas
Aluna da UMa