Há petróleo na Rua Nova da Levada do Cavalo
Estávamos ainda no reinado de D. Miguel Gouveia à frente dos destinos do Funchal, e na excitação das eleições autárquicas, no início de Agosto do corrente ano começaram, com grande intensidade, as obras na Rua Nova da Levada do Cavalo. E eis que, após umas curtas férias, quando chego a casa deparo-me com um fosso digno de um castelo medieval (só faltavam os crocodilos), a toda a extensão da rua. O problema é que, para entrar em casa, nem umas míseras tábuas tinha para poder passar.
E assim foi durante dois longos e intermináveis meses de obras, quando o tempo previsto para os trabalhos seria de um mês. Vezes sem conta, ao fim do dia, sem tábuas para acesso a casa, e os entulhos jogados por todo o lado; vinha uma empresa, depois outra, e ainda outra... E as obras lá se iam arrastando, a fazer render o peixe e a desesperar quem aqui vive.
Até que, na véspera das eleições (às tantas, para um melhor efeito junto dos eleitores), foram preparar a rua para ser asfaltada, deixando um desnível no portão da minha casa. E graças a esse desnível, lá fui eu parar ao chão, e com desagradáveis e dolorosas consequências (aliás, convém salientar que eu não fui a única munícipe a cair naquela rua, em resultado daquelas malfadadas obras): ida às urgências, fiquei de baixa, idas a médicos, vários medicamentos e exames, enfim, uma verdadeira via sacra. Já não bastava o que padeci enquanto andavam a brincar às obras, e ainda tinha que gramar com este bónus.
Como é de direito nestes casos, entrei com o processo para ser ressarcida dos gastos com este acidente: outra aventura! Fui "de Anás para Caifás", empurrada de um sítio para outro, pois, pasme-se! (ou não...), ninguém parecia saber como se processava a situação porque, na altura, a Câmara estava em transição e os vereadores ainda em funções já nem se atreviam a colocar os pés no edifício dos Paços do Concelho. Queixa finalmemnte feita, ficou do seguro fazer uma peritagem... e, até hoje, nada feito (será que houve uma avalanche de casos parecidos, à conta da febre das obras?). As obras pré-eleições tiveram um custo, e parte desse custo fui eu que acarretei com dores que até hoje sinto. E, pelo que vejo, tão cedo não me vejo livre delas.
O mais engraçado é que, por estes dias, começaram novas obras neste mesmo arruamento. A minha filha perguntou-me porque é que os homens das obras estavam sempre por aqui, e só me ocorreu responder-lhe: "olha querida, há petróleo nesta rua, só pode!"
Elisa Mendonça