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Mudança de hora…

Há somente presente, não futuro nem passado, com o tempo que temos ao dispor

Invariavelmente, nas últimas décadas, duas vezes por ano há mudança de hora, de Verão para Inverno no Outono e vice-versa na Primavera, isso é, adiantando ou atrasando artificialmente a hora solar para que o Sol brilhe o mais possível durante os dias quando se tornam mais curtos.

Interessante e invariavelmente, naqueles dias em que temos uma hora a mais para dormir ou uma hora a menos para atrapalhar, o tempo, esse, continua a marcar o seu tempo sempre para a frente, mantendo sempre a sua cadência no tic-tac dos relógios mais antigos ou no pulsar dos segundos e das suas divisões dos mais modernos. Isto é, quando temos uma hora a mais para dormir, o tempo continuou o seu percurso, não voltou para trás.

Não vivemos esse tempo duas vezes, nem deixamos de viver (a vida não se suspende) quando há uma hora a menos. O tempo está sempre a contar!

Há somente presente, não futuro nem passado, com o tempo que temos ao dispor, e as mudanças artificiais não tiram nem acrescentam tempo ao tempo.

Podemos olhar para o tempo com olhamos o horizonte:

está sempre ali, a deixar à imaginação o sonho de saber o que se passará para além do que é visto, mas ao qual nunca chegamos por mais que nos esforcemos por lá chegar, tal como nunca chegamos ao tempo que está para vir.

O horizonte, tal como o tempo, avança sempre e não há hipótese de o fazer voltar para trás, por mais artificialidades que a mente humana queira inventar.

É assim e não há volta a dar.

Mas podemos encarar o(s) horizonte(s) e, se quisermos, o tempo, se apreciarmos de uma outra forma a realidade que nos é proporcionada por aquilo que a Natureza nos coloca no campo de visão.

Vivendo à beirinha, com o mar a estender-se até um horizonte que umas vezes se vê e outras não, temos a sorte de ter, também ali à beirinha, as Desertas (bem, os que vivem nas costas sueste da Madeira) que, como me dizia um amigo há alguns dias, são sempre diferentes:

num dia vêem-se bem, no outro não

num dia estão encobertas, no outro não

num dia chove, no outro o Sol dá-lhes brilho

tem dias em que parecem estar longe, bem longe que nem parece fazerem parte de nós

tem dias em que estão tão perto que até parece que as podemos tocar

tem dias que parecem não ter fim

tem outros que parecem tão pequenas quais ilhéus marginais à Ilha Grande.

Olhar as Desertas, sempre iguais e sempre diferentes, é como olhar os nossos horizontes pessoais com os seus dias limpos e cheios de tudo e os seus dias nublados e cheios de incertezas, é como olhar o tempo que passa, sempre ritmado no passar, mas sempre diferente no que contém como horizonte e que não muda por mais que se esforcem as mentes humanas.