O papel das famílias numa sociedade envelhecida
Muito se fala sobre o envelhecimento da população e das preocupações que esta situação levanta para toda a sociedade, mas poucos parecem apresentar o tipo de sociedade envelhecida que desejariam construir e como o fazer. Nesta altura mais de 22% da população portuguesa tem mais de 65 anos (população idosa ou idosos) e estima-se que em 2065 essa percentagem aumente para mais de 35%. Assim o rácio entre as pessoas idosas e as pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos (população ativa ou ativos) vai aumentar dos cerca de 35 idosos por 100 ativos para mais de 65 idosos por 100 ativos em 2065.
Estes números levantam preocupações sobre a sustentabilidade do sistema de segurança social existente e os custos acrescidos de saúde. Sendo o sistema de segurança social baseado num esquema de repartição onde a população ativa contribui para o pagamento das pensões dos idosos, à medida que o número de idosos por ativo vai aumentando mais difícil será para os ativos garantirem as pensões dos idosos, ou seja, maior terá que ser a taxa de desconto nos salários dos ativos.
Como referi no artigo do mês passado os custos adicionais numa situação de demência são estimados em mais de 20000€ por indivíduo e aumentando o número de demências com o envelhecimento, isto significa que muitos idosos não irão conseguir pagar as suas despesas com as pensões que recebem mesmo se essas pensões sejam acima da média. No momento presente existem muitas pensões que não garantem a qualidade de vida do idoso dado o valor muito baixo que têm; a pensão média da segurança social tem-se mantido sistematicamente abaixo do limiar de pobreza.
Estes são alguns dos desafios que o envelhecimento nos coloca, mas qual a sociedade envelhecida que queremos?
Quando falamos de uma sociedade inclusiva não podemos deixar de pensar numa sociedade que inclua os idosos no seu seio. Na realidade o que se passa é que na sociedade que temos atualmente um grande número de idosos se encontram em lares contra a sua vontade e que poderiam não estar se houvesse outro tipo de apoios ou outro tipo de estruturas de acolhimento.
Por vezes fala-se na incapacidade da família dita moderna de prestar apoio aos idosos e essa incapacidade é real, mas podem ser implementadas medidas que permitam às famílias voltarem a ser cuidadoras dando-lhes direitos que neste momento não têm.
Já nesta coluna tenho escrito sobre a disparidade entre os direitos que as famílias que têm filhos pequenos têm e os direitos que têm as famílias que cuidam dos seus idosos. Veja-se ainda recentemente o direito ao trabalho à distância para os pais que têm filhos com menos de 8 anos, sem ninguém se lembrar de dar igual direito para os filhos que cuidam de pais idosos; este é só um dos muitos exemplos que podia dar aqui.
Temos dois modelos de sociedade envelhecida possíveis: 1) um em que os idosos (ou maioria) irão para estruturas residenciais; e 2) um em que os idosos ficam integrados na sociedade que os apoia e às suas famílias. O tempo de escolher é agora… eu escolho envelhecer numa sociedade que tudo fará para não me excluir e você?