Carta de um ‘inculto’
Já diz o provérbio: é tão difícil ser-se profeta na sua própria terra. Olhando, para a cultura o designado parente pobre da sociedade, deparamo-nos que algo de bom foi feito nesta terra nas últimas décadas. Muitos dos nossos jovens evoluíram nesse campo e até deram-nos grandes alegrias e projeção a nível nacional e internacional. Tanto no público e até no privado com associações ligadas às artes conseguiu-se boas performances nesse sector. Recentemente foi efetuada uma gala que comemorou os 75 anos do Conservatório escola profissional das artes da Madeira que muito honradamente leva o nome de um dos percursores nessa área, o Eng.º Luiz Peter Clode. Certo é que todos os que ali passaram bem sejam como gestores, administrativos, lecionando e ou como alunos merecem toda a nossa consideração, respeito e motivação para que no seu desempenho tenham o almejado sucesso de que tanto ambicionam. Pena é que muitos daqueles que por lá passaram e que hoje são talentos reconhecidos a nível regional, nacional e porque não lhes dizer, mundial, tenham ficado esquecidos na hora da merecida homenagem. Por uma questão de dignidade e de reconhecimento pelo trabalho desempenhado, acho que deveriam ter convidado atores que atualmente têm projeção regional, nacional e internacional através de algumas digressões, e sobretudo nos milhões de seguidores via internet através das redes sociais, 4 ex-alunos do conservatório e o grupo humorístico de maior impacto a nível regional e são da Madeira, (com vídeos de milhões de visualizações e partilhas), assim como uma bailarina que concluiu os seus estudos numa das melhores escolas do mundo na Rússia e que durante alguns anos fez parte da equipa de Filipe la Féria atualmente a lecionar dança numa academia privada, também uma pianista deficiente visual e que teve projeção a nível internacional e alguns outros que na hora de homenagens simplesmente foram esquecidos. Em detrimento dos homenageados muito embora não deixando de reconhecer os seus maravilhosos talento, empenho, dedicação e porque não sucesso nas suas carreiras, alguns deles até nunca terem sido alunos dessa escola e tiveram o privilégio da merecida e (justa) homenagem pois a arte pública e ou privada no seu todo é a representatividade da cultura dum povo. Será que o mérito só é reconhecido àqueles que partilham um sistema que tem enorme dificuldade em reconhecer o talento e o mérito antes que as influências, as classes ou as amizades, pois esse continua como a condicionante duma democracia onde a liberdade continua muito condicionada. Será essa uma das razões que leva a que muitos dos nossos jovens talentos, não só nas artes, mas em quase todos os sectores, desporto, hotelaria, saúde etc, sintam a necessidade de terem de emigrar porque na sua terra continua-se a fazer-se jus ao provérbio inicialmente focado?
A. J. Ferreira