Aumento dos custos da energia pode adiar investimentos em descarbonização
A Confederação Empresarial de Portugal (CIP) alertou para o adiamento ou deslocação dos investimentos previstos pelas empresas em descarbonização das instalações, devido ao aumento dos custos da energia e das licenças de dióxido de carbono (CO2).
"O enorme aumento dos custos da energia e das licenças de CO2 faz prever a necessidade do adiamento e/ou deslocação dos investimentos previstos em descarbonização das instalações", disse à agência Lusa a CIP, a propósito da conferência do clima, que se iniciou no domingo e decorre até 12 de novembro, em Glasgow, Escócia, copresidida pelo Reino Unido e por Itália.
Questionada sobre como pode a atual crise energética limitar estas decisões e adiar mudanças nas empresas, a CIP disse temer que as medidas que estão a ser encaradas pela Comissão Europeia (CE) "não tenham, na prática, o efeito pretendido".
Entre várias medidas, a CE propõe-se potenciar o sucesso do Sistema Europeu do Comércio de Emissões de CO2 (CELE), integrada no pacote legislativo 'FitFor55', através da redução do número de licenças emitidas, da redução significativa da atribuição de licenças gratuitas e da expansão do esquema a novos setores, nomeadamente o dos transportes.
"A CIP entende a importância de adotar medidas mais ambiciosas contra as alterações climáticas, mas relembra que acelerar o processo de descarbonização da economia para o ritmo que se determinou necessário exige investimentos significativos, estando a sua viabilidade económica e financeira dependente, sobretudo, de condições de concorrência equitativas", apontou a confederação patronal.
Para a entidade, à medida que a Europa aumenta a sua ambição em termos climáticos, persistem também as incertezas sobre os planos descarbonização dos parceiros comerciais de fora da União Europeia (UE).
A CIP entende que a disparidade cada vez mais "gritante" entre a concorrência, torna a "proteção contra a fuga de carbono mais relevante do que nunca para garantir uma concorrência leal".
"À medida que a via para a descarbonização da UE se intensifica, levando a um aumento global dos custos de CO2, as fábricas europeias, enfrentarão crescente desvantagem competitiva em relação aos produtores de países-terceiros", sublinhou, acrescentando que tal "resultará em menor acesso aos mercados de exportação para a indústria nacional e europeia, com impacto negativo quer na sua competitividade quer no desempenho global de redução de emissões de CO2".
Segundo a CIP, a expectativa das empresas para a COP26 é a de que "todas as partes aumentem as suas ambições de acordo com os compromissos assumidos pela UE".
A confederação destacou "a forte resposta das empresas ao Convite à Manifestação de Interesse para Desenvolvimento de Projetos no âmbito das Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial", com 146 candidaturas de consórcios integrando mais de 1.800 co-promotores, dos quais 80% são empresas.
O investimento total associado a estas candidaturas eleva-se a quase 15.000 milhões de euros, esclareceu a entidade.
Das 146 candidaturas, prosseguiu, 51 inserem-se no quadro das Agendas Verdes para a Inovação Empresarial, "através das quais se pretende apoiar projetos colaborativos dirigidos ao desenvolvimento de novos produtos, serviços e soluções que permitam responder ao desafio da transição verde em direção à sustentabilidade ambiental".
Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos são esperados em Glasgow para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
Apesar dos compromissos assumidos até agora, as concentrações daqueles atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.