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Brasil diz que usará "força total" para reduzir desflorestação após acusações de ocultar dados

Foto MAURO PIMENTEL/AFP
Foto MAURO PIMENTEL/AFP

O Governo brasileiro afirmou na quinta-feira que vai usar "força total" para reduzir a desflorestação ilegal no país, após ser acusado de ter ocultado dados da degradação da Amazónia para preservar a sua imagem na COP26.

"O Estado brasileiro vai subir com força total para onde os números ainda não são bons. Esse crime passou da hora de ter um fim no Brasil", disse o ministro da Justiça, Anderson Torres, frisando que o país irá eliminar a desflorestação ilegal até 2028, promessa feita pelo executivo brasileiro na 26.ª cimeira das Nações Unidas sobre alterações climáticas (COP26), em Glasgow, na Escócia.

"O Governo Federal irá atuar com tolerância zero (...). As ações serão expandidas e executadas de forma contundentes no combate aos crimes ambientais", acrescentou o Ministério da Justiça na rede social Twitter.

Já segundo o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, os números oficiais que dão conta de um aumento da desflorestação da Amazónia "não refletem a atuação do Governo nos últimos meses".

De acordo com Leite, haverá uma "ampliação" da presença de militares e agentes da Força Nacional, a execução do orçamento suplementar para órgãos de fiscalização e preservação ambiental, e a contratação de mais de 700 agentes ambientais em 2022.

A posição do executivo, presidido por Jair Bolsonaro, surgiu algumas horas após o Instituto Nacional de Estudos Espaciais (INPE), órgão governamental, ter divulgado que a Amazónia brasileira perdeu 13.235 quilómetros quadrados de cobertura vegetal entre agosto de 2020 e julho de 2021, a maior área degradada para um período de doze meses dos últimos 15 anos.

Contudo, segundo organizações ecologistas e o Sindicato Nacional dos Funcionários Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial (SindCT), o Governo já tinha conhecimento dos dados sobre o agravamento da desflorestação desde meados de outubro, mas só autorizou a sua divulgação após a conclusão da COP26.

A devastação anual da Amazónia é medida pelo Projeto de Monitorização da Desflorestação da Amazónia Legal por Satélite (Prodes), ferramenta do INPE que calcula a perda de vegetação usando satélites e é considerado o mais preciso para medir as taxas anuais.

"O resultado do Prodes é sempre aguardado, com interesse, pelos governos, cientistas do clima e sociedade civil organizada. Este ano, em particular, eram números muito aguardados. Mas, neste evento em Glasgow, os números do Brasil não apareceram. Jornalistas especializados buscaram informações com membros do Governo brasileiro e foram informados que o Prodes ainda não tinha concluído o seu relatório anual. Pura mentira!", indicou o sindicato em comunicado.

Já o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, alegou que só teve "contacto com o dado hoje [quinta-feira]".

Contudo, na realidade, o documento divulgado na quinta-feira pelo órgão governamental, que aponta o aumento 22% na desflorestação da Amazónia entre 2020 e 2021, tem a data de 27 de outubro de 2021, alguns dias antes do início da COP26.

Para ambientalistas, trata-se de um "duplo escândalo".

"Há um duplo escândalo que deve ser considerado. O primeiro é o facto de que a nota divulgada pelo INPE é do dia 27 de outubro, ou seja, anterior à Conferência do Clima. Trata-se da primeira vez em que o Prodes não foi divulgado antes ou durante a COP", afirmou João Paulo Capobianco, membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, citado pelo portal de notícias G1.

"Apesar das tentativas recentes do Governo limpar a sua imagem, a realidade impõe-se mais uma vez. (...) Fica evidente que as ações necessárias por parte do Brasil para conter a desflorestação e as mudanças climáticas não virão deste Governo que está estacionado no tempo e, ainda vê a floresta e seus povos como empecilho ao desenvolvimento", avaliou Cristiane Mazzetti, porta-voz da campanha da Amazónia da organização Greenpeace.