Tribunal começa a ouvir sexta-feira arguidos do julgamento de bispos e pastores da IURD
A segunda sessão de julgamento de bispos e pastores brasileiros e angolanos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) prossegue sexta-feira com o início da audição dos quatro arguidos.
O dia de ontem, de arranque do julgamento sobre queixas apresentadas em 2019 por um grupo de pastores angolanos, ficou marcado por uma longa sessão de questões prévias da parte do tribunal, defesa e acusação sobre questões processuais, nomeadamente resposta a vários recursos interpostos.
O processo tem como arguidos o bispo brasileiro e ex-líder espiritual da igreja, Honorilton Goncalves, o bispo angolano António Ferraz, o pastor brasileiro Fernando Teixeira, o pastor angolano Belo Kifua, além do pastor brasileiro Rodrigo César Ferreira do Carmo, ausente do país por ter sido expulso pelas autoridades angolanas.
Para acelerar as sessões do julgamento, o juiz Tutti António programou para o dia 25 deste mês o início da audição dos primeiros 15 declarantes de mais de 80 arrolados no processo, seguindo-se o grupo seguinte de outros 15 no dia 09 de dezembro.
Em declarações à imprensa, o advogado da parte da acusação, David Mendes, considerou manobras dilatórias os vários recursos interpostos pela defesa.
David Mendes disse que estão em julgamento dois processos, um ligado ao branqueamento de capitais e o segundo sobre burla e defraudação, relativo a uma mulher que supostamente terá sido lesada pela igreja em mais de 150 milhões de kwanzas (220.261 euros) a favor da igreja.
Segundo David Mendes, "as pessoas foram levadas a dar aquele dinheiro".
O advogado salientou que a atual liderança da igreja, reconhecida pelas autoridades angolanas, liderada pelo bispo Valente Bezerra, "acabou com a fogueira santa, uma forma de indução das pessoas para darem dinheiro à igreja".
"Havia fogueiras santas duas vezes por ano e nisso se arrecadavam mais de 70 milhões de dólares [61,8 milhões de euros]", disse.
A Lusa tentou ouvir a defesa dos arguidos, que se recusou a falar.
Enquanto decorria o julgamento, no exterior do Tribunal Provincial de Luanda "Palácio Dona Ana Joaquina", centenas de fiéis defensores da ala brasileira, liderada atualmente pelo bispo angolano Alberto Segunda, realizavam uma corrente de oração, e saudaram efusivamente o arguido Honorilton Gonçalves à saída do tribunal, que parou a viatura em que seguia para cumprimentar as pessoas.
Os fiéis cantavam "aleluia, porque a luta continua, aleluia vai em frente, no final a gente vence".
Em declarações à agência Lusa, Sidraque Raul, obreiro do Samba I, disse que a gratidão o levou a estar ali presente.
"Gratidão, porque quando eu estava no mundo, era bandido, ladrão, bêbado, a igreja acolheu-me, [foi] onde eu encontrei ajuda", referiu.
Por sua vez, Rosa Chindumbo, outra fiel presente no local, disse ter-se sentido muito bem ao ter visto o bispo Honorilton Gonçalves, garantindo que os fiéis "nunca se irão curvar".
"E nós vamos lutar até ao fim, a nossa igreja é a Igreja Universal do Reino de Deus, essa igreja em nome de Jesus, nunca ninguém vai tirar, ninguém vai parar. estou na Igreja Universal há 20 anos, que não são 20 dias, estamos aqui de pé mais fortes para apoiar a nossa igreja e as nossas obras", referiu Rosa Chindumbo, que chegou ao local às 05:50 "para apoiar o bispo Honorilton Gonçalves".
O caso remonta ao ano 2019, quando um grupo de pastores angolanos afastou a direção brasileira, com várias acusações, nomeadamente da evasão de divisas, racismo, prática obrigatória de vasectomia, entre outras, todas recusadas pelos missionários da igreja criada pelo brasileiro Edir Macedo.
Os brasileiros, por seu turno, acusam também os angolanos de atos de xenofobia e agressões.
No decurso da situação, marcada também pela tomada à força de templos em todo o país pelos bispos angolanos, a justiça angolana decretou o encerramento dos templos, tendo igualmente alguns demissionários sido convidados a abandonar o território nacional.