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Na porta giratória do Governo Regional só há lugar para “yes men”

O caos alojado no Instituto de Desenvolvimento Regional, o principal órgão gestor dos fundos europeus tendo em conta o nível de responsabilidades que assume, criou uma enorme preocupação em todos os setores políticos e económicos, exigindo-se uma explicação sobre as razões de fundo que provocaram esta instabilidade e incertezas. O que está verdadeiramente em causa? O que está para além das notícias publicadas?

Temos um Governo Regional sem rumo, preso aos ziguezagues das decisões políticas e entretido a proteger sabe-se lá o quê e quem, num momento em que se exige estabilidade e transparência nos processos, no sentido de colocar o acesso e a distribuição dos fundos europeus ao serviço da Madeira e dos interesses dos madeirenses de modo que a execução atinja os patamares desejados.

O peso do dinheiro do próximo Quadro Financeiro Plurianual de fundos europeus a juntar às verbas do PRR há algum tempo que têm vindo a provocar algum alvoroço dentro do Governo Regional e arredores bem imiscuídos no sistema instalado.

A dança de cadeiras de diretores, assessores e de pastas que saltam de uma secretaria para outra, tudo sem qualquer justificação, a somar a novas nomeações, repescagens, despedimentos e outros afastamentos à pressa, dentro do próprio governo, neste momento tão decisivo em que vão chegar à Região milhões e milhões de euros para serem distribuídos, denunciam, por um lado, a proteção dos interesses político-partidários do PSD e do CDS e, por outro, o desnorte da governação, ou ainda, sabe-se lá, se não estamos perante uma tentativa de abrir trilhos de distribuição pouco claros para os mesmos de sempre.

A nossa memória está fresca e lembramo-nos todos, muito bem, dos investimentos necessários e importantes para a Região, sem dúvida, mas conhecemos também os “elefantes brancos” espalhados que não servem para nada e que custaram milhões e milhões de euros ao erário público. Os madeirenses não se esqueceram dos governos do PSD que se fecharam dentro de uma “torre de marfim” a gerir os fundos europeus, sem ouvir ninguém, numa atitude do “sei, posso e mando” e sem a mínima vergonha de desperdiçar, esbanjar e gastar sem critério e sem transparência.

Os recentes acontecimentos dentro do IDR apenas confirmam que, neste governo, só existe lugar para os “yes men”. Ou alinham ou saem, sem pestanejar.

Não obstante, em democracia, a gestão da “coisa pública” não faz parte da moldura política do “come e cala”. É preciso explicar muito bem esta instabilidade criada num Instituto que é o pilar da gestão dos fundos europeus: alinham em quê e para quê? A Autonomia existe para ser colocada ao serviço dos interesses dos madeirenses e não de outros interesses mais ou menos abafados.

O despedimento de Augusta Aguiar, estranhamente, logo após as eleições autárquicas, sem justificações claras e repleto de imensas dúvidas, que entre outras áreas, era a responsável pela gestão e fiscalização das verbas da segurança social, prescrições, apoios sociais e de outros milhões distribuídos para as casas do povo e o repescar de Rita Andrade para a mesma Secretaria Regional onde tinha sido dispensada há pouco tempo, é apenas outro exemplo da navegação à vista e da defesa dos jogos político-partidários em que o governo caiu.

Este entra e sai de protagonistas, qual porta giratória, do governo é da inteira responsabilidade do seu presidente, inquestionável, todavia, quando estas mudanças entram numa espécie de rotina, colocando em causa a credibilidade e a transparência da atuação do governo, quando envolve pessoas que trabalham diretamente com verbas dos diversos fundos europeus e outros de âmbito nacional, deixando no ar uma manta de suspeitas e de interesses pouco claros, naturalmente que os madeirenses têm o direito de conhecer toda a verdade.