Coronavírus Madeira

“Deve ser tornado obrigatório o uso de máscaras"

Epidemiologista Manuel Carmo Gomes salienta que a variante Delta do SARS-Cov-2 é tão contagioso como a Varicela

Foto DR
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O epidemiologista Manuel Carmo Gomes defende que a Madeira deve adoptar todas as medidas que minimizem o contacto das pessoas perante uma variante Delta do coronavírus SARS-Cov-2 que é muito mais contagiosa, ao mesmo nível de uma Varicela, frisando que o uso de máscaras em espaços fechados e mesmo na via pública onde não seja possível manter distanciamento deve ser obrigatório, apontando ainda a medidas como o teletrabalho como forma de o Governo Regional controlar o aumento de casos que se assiste nos últimos dias e que, ainda hoje, merecerá o anúncio de novas medidas por parte de Miguel Albuquerque.

O docente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e também membro da Comissão Técnica de Vacinação (CTV) da Direcção-Geral de Saúde, começou por referir que ainda não conseguiu “compreender bem a razão pela qual os números (de infecções) estão a subir dessa maneira”, reconhecendo “esta variante Delta do vírus é altamente contagiosa”, sendo por aí a explicação deste incremento também no continente.

Sobre a variante Delta, frisa que “é uma contagiosidade que se assemelha, por exemplo, à Varicela. A Varicela é uma infecção que todos nós, mais tarde ou mais cedo apanhamos, encontramos na vida. Normalmente, as crianças quando saem da escola primária já contraíram a Varicela”.

“Deve ser tornado obrigatório máscaras nas escolas, nos locais de trabalho, dentro dos cafés e restaurantes enquanto a pessoa não está a comer, desde que sejam espaços não arejados, portanto espaços onde o contágio é muito fácil”. Manuel Carmo Gomes

Portanto, “são doenças muito contagiosas” e "se quisermos travar a propagação delas temos que ter duas coisas: uma é uma cobertura vacinal muito alta, que eu presumo que na Madeira existe como no resto do país; a outra é mantermos medidas de distanciamento com disciplina, portanto não podemos relaxar a utilização de máscara em espaços fechados”, realça.

Assim, para Manuel Carmo Gomes, “deve ser tornado obrigatório máscaras nas escolas, nos locais de trabalho, dentro dos cafés e restaurantes enquanto a pessoa não está a comer, desde que sejam espaços não arejados, portanto espaços onde o contágio é muito fácil”.

Mas não só: “Depois, aquelas medidas elementares como, por exemplo, a obrigatoriedade de máscaras nos transportes públicos e, depois tudo, o que sejam medidas que evitem grandes aglomerações de pessoas. Por exemplo, quando há acontecimentos culturais ou desportivos, no meu entender deve-se estabelecer o limite de lotação muito abaixo do máximo. Tudo aquilo que impeça proximidade entre pessoas e transmissão, porque a proximidade é suficiente para haver transmissão.”

Para o epidemiologista não há como defender, com razoabilidade, o uso de máscaras na rua “a não ser quando não conseguimos manter a distância entre grupos de pessoas. Se eu for com a minha mulher a passear na rua ou dar um passeio ao fim de semana, desde que não estejam pessoas à nossa volta, não se justifica a utilização de máscaras porque o vírus assim não se transmite. O vírus transmite quando nós inalamos o ar que outras pessoas expiram e, portanto, se estivemos ao ar livre, como há sempre uma brisa, não há transmissão, é muito pouco provável que haja transmissão. A não ser que haja muita gente, por exemplo, estejamos todos ao molho em cima uns dos outros a ver um espetáculo desportivo aí é perigoso, evidentemente.

Manuel Carmo Gomes acredita, por isso, que devem ser implementadas “tudo o que sejam medidas que não interferem com a economia, com o funcionamento da economia, nem com a nossa vida social, mas que diminuem o risco de contágio através de aerosol porque o vírus transmite-se por aerossol, as partículas do vírus ficam em suspensão no ar e se não houver arejamento nós podemos inalar essas partículas”.

E, lembrando medidas como o teletrabalho que vigoraram durante grande parte do ano passado, reforça que “tudo o que sejam medidas que não interfiram com a economia e que evitem esse tipo de inalação e, portanto, de contágio, eu acho que devem ser promovidas”. E aponta, por exemplo, que “as pessoas podem estar em teletrabalho sem que isso prejudique o funcionamento da empresa, eu acho que devem estar em teletrabalho. Portanto, é todo esse conjunto de medidas. Nós já estamos há quase dois anos a ter experiências com isto, já experimentámos todo o tipo de medidas, portanto vamos tentar adotar aquelas que minimizam o impacto na economia e na vida em sociedade, a nossa vida normal. E são muitas, mas a que eu poria em primeiro lugar é a obrigatoriedade de máscaras em espaços não arejados, onde as pessoas trabalham ou têm aulas ou por alguma razão têm que se encontrar”, conclui.