Espanha, UE e partidos pedem a Havana que devolva credenciais a jornalistas da Efe
O Governo de Espanha, a União Europeia (UE), políticos de diversos partidos e dezenas de associações exigiram, esta segunda-feira, às autoridades cubanas que devolvam as acreditações que permitam que todos os jornalistas da agência noticiosa Efe trabalhem na ilha.
No passado sábado, dois dias antes da realização de uma grande manifestação de protesto na ilha, já designada de 15N, as autoridades cubanas retiraram as acreditações a cinco jornalistas da agência Efe em Havana, mas posteriormente devolveram-nas a dois dos repórteres.
A Espanha "não vai recuar" até que as autoridades cubanas devolvam "todas as credenciais" a todos os jornalistas a quem foram retiradas no sábado, sem receberem explicações, assegurou o chefe da diplomacia de Madrid, José Manuel Albares, à chegada ao Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE em Bruxelas.
O Alto Representante para a Política Externa da UE, Josep Borrell, também sublinhou que o bloco "emitiu um apelo às autoridades cubanas para que garantam a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa", e considerou a medida das autoridades de Havana "mais um passo para impedir o fluxo de notícias abertas e corretas sobre a ilha".
Borrell acrescentou que a UE "continuará a defender a função dos meios de comunicação independentes e confiáveis em todo o mundo", para "a salvaguarda da liberdade e do pluralismo dos media".
A presidente da Efe, Gabriela Cañas, que considerou "insuficiente" a devolução de duas autorizações de trabalho, sublinhou hoje que o ocorrido em Cuba "é uma tentativa de silenciar a agência e não tem qualquer sentido, porque é uma agência pública que exerce o mais rigoroso jornalismo".
Nessa perspetiva, manifestou confiança que as autoridades de Cuba devolvam as acreditações aos jornalistas da agência para que possam prosseguir a sua atividade na ilha.
A Junta diretiva da Aliança Europeia de Agência Noticiosas, que engloba 32 agências nacionais de notícias e sediada em Berna, na Suíça, também incitou hoje o Governo cubano a restituir aos jornalistas da Efe todas as credenciais, o que significaria "um sinal de transparência e boa vontade".
O organismo considerou ainda que a medida das autoridades cubanas "é mais preocupante por ocorrer quando se prepara um protesto contra esse mesmo Governo na ilha", numa referência à marcha cívica convocada pela oposição para hoje e declarada ilegal pelo poder.
Ainda esta segunda-feira, os principais partidos políticos manifestaram solidariedade com a agência Efe. A porta-voz do partido de esquerda Podemos, Isa Serra, assegurou que "não existe alternativa à defesa da liberdade de imprensa e ao direito à informação" e pediu a devolução das credenciais a todos os jornalistas da Efe em Havana.
O secretário-geral do Partido Comunista de Espanha (PCE), Enrique Santiago, também assegurou não existir "nenhuma dúvida de que isso vai resolver-se corretamente".
As críticas mais veementes sugiram da oposição de direita ao Governo de coligação dirigido pelo PSOE, com o Partido Popular (PP) a apoiar a manifestação prevista para hoje em Cuba e a liderança do Vox (extrema-direita) com a maioria dos seus deputados a participarem numa concentração frente ao parlamento promovida pela organização Mobilizados Até à Liberdade e Democracia em Cuba, onde acusaram o Governo cubano de tentar "que não se conte a verdade".
Numa posição contrastante, e numa referência aos recentes acontecimentos, o Presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, absteve-se de comentar o protesto convocado para hoje ao referir que o Governo mexicano "não fomenta a ingerência", e voltou a criticar o bloqueio imposto pelos Estados Unidos ao país caribenho.
Em novembro de 2020 e em 11 de julho passado ocorreram manifestações em Cuba que mobilizaram milhares de pessoas, no último caso considerados os maiores protestos registados na ilha desde o designado "maleconazo", quando em agosto de 1994 e em pleno "período especial", centenas de pessoas se manifestaram em Havana, implicando uma presença pessoal do então líder do país Fidel Castro.
Os protestos de 11 de julho foram motivados pelo descontentamento social e a grave crise motivada pela pandemia, as sanções dos Estados Unidos e a situação económica na ilha.