Madeira

Militantes do PSD-Madeira podem ser decisivos na eleição do líder nacional

Foto Arquivo/Aspress/Rui Silva
Foto Arquivo/Aspress/Rui Silva

O Diário de Notícias de Lisboa faz hoje manchete com as eleições directas no PSD, analisando as contas à militância vs quotas pagas vs direito ao voto, que podem colocar nas mãos dos social-democratas da Madeira o voto decisivo para eleger o próximo líder nacional do partido e, potencialmente, o próximo primeiro-ministro uma vez que quem for eleito a 27 de Novembro será o candidato às eleições legislativas antecipadas de 30 de Janeiro do próximo ano.

Diz o DN que "Madeira, Açores, Porto, Braga, Área Metropolitana de Lisboa e Aveiro representam mais de 65% dos 'militantes social-democratas ativos' [os que pagaram pelo menos uma quota nos últimos dois anos], mas na hora do voto para a escolha do líder do partido os dois arquipélagos perdem expressão eleitoral - mais os açorianos do que os madeirenses".

E a explicação: "A quota de quase 13% de militantes ativos nos Açores cai para pouco mais de 1% com quotas pagas e, por isso, com direito a votar. Na Madeira o tombo é menor: de quase 11,7% para quase 5%. A diferença reflete-se no ranking das distritais com maior peso eleitoral. Os madeirenses assumem a 6.ª posição, enquanto os açorianos caem para o fim da tabela, na 18.ª posição. Traduzido em números, dos 10.792 militantes do PSD/Açores só cerca de 500 podem votar; dos 9754 do PSD/Madeira quase 1700 [há uma expectativa local de que se alcance os 2000] podem 'influenciar a escolha nas eleições diretas' de 27 de Novembro."

Mais, lembram que "sempre foi assim nos Açores, desde o tempo de Mota Amaral. Ao contrário do continente, aqui o militante não é suspenso por não pagar quotas, porque não existe essa obrigatoriedade. Nos órgãos regionais do partido, um militante pode eleger ou ser eleito sem precisar de ter quotas em dia. Em tese, o líder do partido poderia ser eleito sem nunca ter pago quotas", explica fonte social-democrata sobre o caso açoriano.

Sobre o caso madeirense "a explicação é menos linear. 'É obrigatório ter as quotas em dia para eleger ou ser eleito', explica José Prada, secretário-geral do PSD/Madeira. E até o conceito de militante ativo é diferente do continente. 'Aqui são três anos, em lugar dos dois do PSD nacional.'"

Citam também Guilherme Silva, deputado social-democrata eleito pelo círculo eleitoral da Madeira entre 1987 e 2015, que entende este "desfasamento" como consequência de "uma fase antiga na vida do PSD/Madeira, onde não era exigido quotas em dia para se ter direito a participar. Ficou, diria, uma tradição enraizada, um descurar ao longo do tempo. Faz falta talvez uma pedagogia que corrija esse desfasamento".

E acrescenta: "Já tenho tempo suficiente de vida para saber que é mais fácil alargar, manter o facilitismo, que o acréscimo de dificuldades.

Outro dirigente citado mas sob anonimato para "não ser mal entendido, dado que há uma campanha interna", que refere que "desde que a eleição passou para este modelo das diretas, é assim. Só era diferente no modelo anterior, quando os militantes elegiam delegados que os representavam no Congresso. Esta questão das quotas pagas não se colocava desta forma e, apesar de tudo [o pagamento em bloco das quotas de, nalguns casos, dezenas de militantes], sentia-se uma maior participação".

Outro militante este explica que a 27 de Novembro "mais de metade dos militantes social-democratas com quotas pagas, e que são decisivos na escolha do líder, está nos distritos do Porto, Braga, Aveiro e Área Metropolitana de Lisboa", pelo que "é aqui que tudo se decide, mas se houver um taco a taco até ao fim, pode acontecer que, de repente, distritais mais pequenas sejam as que decidam quem vence", frisa. "Dito de outra forma: 'Rangel parece ter quase todo o aparelho do partido com ele, mas o voto anónimo, livre, do militante sem interesses, pode decidir quem será o candidato do PSD a primeiro-ministro'."

O caso específico da Madeira

O DN aponta baterias à Madeira por ser mesmo um caso muito peculiar. "'Provavelmente esta semana' [ainda não está anunciada uma data certa], Rui Rio irá à Madeira, onde não esteve nas autárquicas, para 'contactos com militantes'. A deslocação anunciada como o cumprir de uma visita que ficou por fazer - 'um dever de reparação dessa falta', diz fonte local - não é encarada somente dessa forma por quem no terreno avalia a disputa entre Rio e Rangel", acrescenta.

E porquê: "'Há uma preocupação de neutralização de Paulo Rangel que tem como mandatário Rui Abreu [ex-secretário-geral do PSD/Madeira], o homem que conseguiu a filiação de muita gente e trabalhou a vitória de Miguel Albuquerque para o governo regional e a de Miguel Pinto Luz na Madeira, nas eleições diretas de 2020, cujos votos acabaram invalidados por não ter sido cumprido o regulamento das quotas. E portanto tem ainda, digamos assim, uma rede extensa de apoiantes. Perfil diferente tem Pedro Coelho, o mandatário de Rio, que é presidente de Câmara de Lobos', diz fonte social-democrata. 'A visita', reafirma, 'não é apenas cumprir o calendário. Há essa preocupação com Rangel'. A Madeira 'vale mais votos que Viseu, ou Faro, ou Setúbal, ou Santarém, ou Guarda, ou Bragança, ou Viana do Castelo, ou Évora, por exemplo, que vale para aí 500 ou 600 votos'."

Factor Jardim

Mas não é só isso, o anterior e histórico líder ainda ter muito poder de influência parece ser decisivo. E explica: "'E depois há o Alberto João [que apoia Rui Rio], que ainda tem peso e influência eleitoral, tem obra feita, que ainda consegue convencer os indecisos que ouvem o que ele diz. E mais ainda quando lhes telefona. E se se chegar aos 2.000, 2.500 militantes com quotas pagas, a Madeira pode ser muito importante na decisão nacional. Se a coisa estiver muito apertada, pode muito bem acontecer que a Madeira possa decidir quem vai ganhar', afirma a mesma fonte."

"'A questão decisiva está no modo como os militantes olham para estas eleições, quem valorizam para ser primeiro-ministro, quem tem mais aceitação no país, não apenas no PSD, para ser governo. A escolha está aí. E na esperança criada pelas autárquicas, pela onda criada nas autárquicas'", conclui", terminando ainda com outra fonte que "sublinha o cuidado de não ter sido dado, pelas estruturas regionais do partido, 'apoio público' a nenhum dos candidatos. 'Não tinha sentido declarar apoio a um e depois comprometer a região se fosse outro a vencer'".

"E Alberto João Jardim?", voltam a questionar: "É um ativo, mas não pode andar sempre a aparecer por causa dos fantasmas do passado. Fala muito bem para fora, mas foi radical no Conselho Nacional [pediu adiamento das diretas e Congresso para depois das legislativas] e viu o que se passou, não viu?", questiona a fonte.