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O futuro a que nos condenamos

“Sumus et fore speramus”… “Somos e seremos” o lema da academia naval holandesa parece uma boa postura em termos de resiliência, não fora esta uma das maiores potências navais da história.

Gostaria, em boa verdade, que fosse igualmente aplicável à Madeira. Clarifiquemos… não tenho dúvidas que a Madeira vai continuar a ser um destino turístico no futuro. As minhas dúvidas surgem em relação a tudo o resto.

Vai ser um destino de excelência… tenho dúvidas. Para promover a qualidade é preciso estar disposto a pagá-la, e não vejo essa vontade por parte dos empresários. Continuam em busca da cansada fórmula do pagar o menos possível, e os trabalhadores hão-de fazer o melhor que sabem… receita para desastre.

Vai ser um destino sustentável, em termos ambientais… cada vez mais tenho dúvidas. E faz sentido. A administração regional tem (sempre teve…) como objetivo primordial eternizar-se no poder. Todos os meios são válidos para isso, e qualquer vantagem que daí advenha para a população será meramente casual. O que importa é manter o PSD no poder, o que implica manter satisfeitos os seus lóbis, nomeadamente o do cimento.

Vai ser um destino sustentável, em termos sociais… tenho muitas dúvidas. Mais uma vez, a prioridade é garantir um modelo de salários baixos e baixa formação. Apoiam-se os empresários nestes esforços, e não há propriamente incentivos à qualificação dos profissionais, nomeadamente na área do turismo. A formação profissional do sector é subcontratada, sendo o objetivo, mais uma vez, menos garantir a qualidade do ensino do que manter um lóbi satisfeito… Os salários continuam baixos. Os rendimentos das empresas também.

Vai ser um modelo sustentável, em termos financeiros… cada vez menos. Neste momento, a hotelaria e restauração têm dificuldades em encontrar trabalhadores. Os sindicatos dizem que há trabalhadores, mas as empresas continuam à procura. A lei da oferta e da procura determina que não havendo oferta de um produto a um dado preço, será preciso fazer subir esse preço até que seja possível satisfazer essa necessidade. Mas isto não interessa à maioria dos empresários do destino. Porque aumentar salários implica aumentar preços em termos de oferta. E porque nunca houve um esforço de diferenciação do destino (e o sintoma é que todos – incluindo os madeirenses – nos continuam a comparar com as Canárias…) temos dificuldade em fazer impor preços mais altos.

E quem diz diferenciação diz também transportes, oferta, promoção, planeamento, estratégia, e muito, avaliação. Mas não me parece que as coisas vão mudar.