Climáximo critica "anúncios vazios" da cimeira em Glasgow e assinala "morte" da cimeira
O coletivo Climáximo considerou hoje que a cimeira do clima em Glasgow (COP26) representa a "morte" deste processo como espaço participativo, com "anúncios vazios", inclusive as promessas de travar a desflorestação até 2030 e de neutralidade carbónica em 2050.
"A declaração final da COP foi o último suspiro deste processo enquanto ideia de espaço participativo. Em Glasgow, com o anúncio de que as próximas reuniões serão sob ditaduras no Egipto e nos Emirados Árabes Unidos, acabaram várias ilusões acerca do processo, dos mecanismos de mercados propostos, da legitimidade e da permeabilidade à influência cidadã", expôs o coletivo ambientalista Climáximo, em comunicado.
Sobre a inclusão da expressão "combustíveis fósseis" na declaração final de Glasgow, que está ausente até do Acordo de Paris, o coletivo português que integra o movimento internacional pela justiça climática referiu que a celebração desse feito "durou pouco", uma vez que a formulação "evitou pôr em causa a continuação plena da indústria do carvão, petróleo e gás".
"Há uma alusão suave a um desmantelamento programado do carvão, o elo mais fraco, mas nada de concreto, e na mesma frase um apelo ao fim dos subsídios aos combustíveis fósseis", apontou o Climáximo.
Concluindo que a cimeira do clima em Glasgow "é a COP dos anúncios vazios", o coletivo ambientalista criticou o compromisso de travar a desflorestação até 2030, porque repete "uma promessa de 2014 que não só não travou a desflorestação como nem sequer impediu o seu aumento" e mantém a meta num futuro distante.
"Regressam as promessas de neutralidade carbónica em 2050, baseadas em 'offsets' de carbono que se têm revelado enormes fraudes e colocadas num futuro tão distante quanto inútil", contestou.
Da análise da COP26, o Climáximo alertou que o objetivo da neutralidade de carbono transformou-se num debate sobre "como começar uma nova ronda de colonialismo e extrativismo, onde ir buscar os novos minerais, onde ocupar terras para simular ação climática plantando monoculturas agrícolas e florestais para produção de biomassa e biocombustíveis".
"Ficámos a saber que há pelo menos 800 novos poços petrolíferas planeados até ao final de 2022, que a União Europeia quer financiar 30 novos projetos de gás com 13 mil milhões de euros de dinheiro público, além de projetos em outros locais do mundo. A expansão da produção de fósseis é um dos planos e a COP tornou-se o local de organização dos vários projetos futuros do capitalismo global", indicou o grupo ambientalista.
Neste âmbito, o coletivo afirmou que a maior delegação presente na COP26 "não era de qualquer país, mas sim da indústria fóssil, com mais de 500 lobistas presentes", criticando a recusa reiterada em confirmar um apoio há muito prometido aos países mais pobres, quer para mitigação de emissões, quer para adaptação aos efeitos das alterações climáticas, o que considera que "retira ainda mais legitimidade de um processo unilateral da liderança do capitalismo global".
"Já o anúncio dos locais de realização das próximas COP -- o Egipto da cruel ditadura de Sisi e o petroestado dos Emirados Árabes Unidos -- marca o divórcio final com a sociedade civil", avançou o Climáximo, reforçando que o movimento pela justiça climática assinala a cimeira do clima em Glasgow como "a última COP".
A 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) adotou formalmente uma declaração final com uma alteração de última hora proposta pela Índia que suaviza o apelo ao fim do uso de carvão.
A alteração foi proposta pelo ministro do Ambiente indiano, Bhupender Yadav, que no plenário de encerramento da COP26 pediu para mudar a formulação de um parágrafo em que se defendia o fim progressivo do uso de carvão para produção de energia sem medidas de redução de emissões.
A proposta acabou por ser aprovada pelo presidente da cimeira, Alok Sharma, que afirmou de voz embargada "lamentar profundamente a forma com este processo decorreu".
O documento final aprovado, que ficará conhecido como Pacto Climático de Glasgow, preserva a ambição do Acordo de Paris, alcançado em 2015, de conter o aumento da temperatura global em 1,5ºC (graus celsius) acima dos níveis médios da era pré-industrial.