Análise

Efeitos da barretada

Os comentários políticos não foram favoráveis

O PSD e o CDS vão estender a coligação em curso nas ‘Regionais’ de 2023. Lemos que o acordo será incluído nas moções que Albuquerque e Barreto vão levar aos respectivos congressos, ainda sem data. Uma lista conjunta que será uma realidade já nas eleições legislativas antecipadas de 30 de Janeiro. O anúncio foi assumido pelo líder centrista que apanhou os militantes do PSD desprevenidos. Os social-democratas devem habituar-se às excentricidades na aliança regional em que dado o cavalheirismo reinante primeiro fala a noiva, embevecida com a prolongada lua-de-mel, por ordem do noivo irreverente, que adora implicar com a família mais próxima e deixar outras possíveis pretendentes à nora. Mas também motivou reparos entre centristas, que detectaram um líder com medo, incoerente e muito dado à manipulação. Bastou ouvir os comentários políticos nos diversos programas da TSF para perceber que o sonho, mesmo não pagando imposto, tende a acabar em pesadelo.

E isto tudo porque Rui Barreto foi à televisão madeirense garantir haver já entendimento com Miguel Albuquerque para que PSD e CDS surjam coligados no círculo eleitoral da Madeira nas eleições legislativas antecipadas de 30 de Janeiro. Mais, quase que jurou a pés juntos que a aliança que quer eternizar será ratificada em breve pelos dois partidos.

O PSD e o seu presidente foram assim postos em xeque, comandados de fora para dentro, e condicionados pelo líder do CDS que, antevendo um cenário dantesco numa corrida isolada, se apressou a transformar um desejo existencial de sobrevivência numa decisão soberana irrevogável.

Entre os social-democratas que julgavam que ainda tinham mão no seu partido reina um misto de espanto e de resignação. Entre os que ponderam mudar de flanco impera a certeza que, em muitos casos, mais vale sós do que mal acompanhados. Entre os que acreditam que a fatalidade propagandeada é reversível, resta a esperança que possam ter direito à palavra, sem repreensão, nem castigo, no conselho regional que, conforme foi anunciado, tinha como propósito definir a estratégia para as legislativas nacionais, que afinal já está decidida e anunciada publicamente pelo ultimamente auto-proposto porta-voz da coligação no poder, o que ajuda Albuquerque a dividir para reinar.

Na política regional, sempre que se fala em chapelada vem-nos à memória as célebres eleições internas no PSD-M, as primeiras da nova era, de resultado duvidoso que gerou protesto público do actual líder.

Na política regional, sempre que os militantes forem desconsiderados por líderes autistas ou apressados, que tudo decidem sem ouvir conselheiros, estaremos a partir de agora perante uma barretada.

E como enfia o barrete quem quer, mesmo que não sinta frio nas orelhas, desejamos aos que foram convocados para o conselho regional do PSD, no dia 20, no Porto Moniz, bons mergulhos. Por esta altura, a água do mar ainda está com uma temperatura de fazer inveja aos que se especializaram em gelar convicções políticas na democracia participativa.