Na "hora da verdade", fim do uso de combustíveis fósseis divide países
A discussão da declaração final da cimeira do clima da ONU dividiu-se entre países como Índia e China, que pediram mudanças na orientação de abandono dos combustíveis fósseis, e outros que defenderam que o texto, embora imperfeito, deve ser adotado.
Em duas horas e meia, dezenas de intervenções de países menos desenvolvidos lamentaram a falta de resolução na adoção de um mecanismo efetivo de compensação por perdas e danos provocados pelas alterações climáticas.
O ministro do Ambiente indiano, Bhupender Yadav, afirmou que "o consenso continua a fugir" e que falta equilíbrio ao texto, nomeadamente no apelo que se faz aos países para abandonarem o uso de combustíveis fósseis, reclamando que os países menos desenvolvidos têm direito ao mesmo desenvolvimento que os países mais ricos tiveram graças a esses combustíveis.
No mesmo sentido foram intervenções de países como o Irão, Cuba ou membros do grupo dos países menos desenvolvidos (G77), entre os quais a Bolívia, que falou em nome do grupo Like-Minded Developing Countries (LMDC), que inclui a China, Rússia e Índia, manifestou reservas e disse que ainda pretendia algumas "pequenas alterações", mas deu luz verde ao texto.
Falando pela União Europeia, o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, fez um apelo inflamado: "Por amor de Deus não matem este momento pedindo mais coisas, pedindo para acrescentar isto ou apagar aquilo!".
No mesmo sentido, o representante do estado insular de Tuvalu, Seve Paeniu, um dos países mais em risco devido à subida do nível das águas do mar, considerou que a proposta de texto e os trabalhos da cimeira "transmitem uma mensagem forte de esperança e de promessa", apelando a que as decisões não dependam do interesse de alguém em "ser reeleito nas próximas eleições".
O ministro do Ambiente do Gabão, Lee White, lamentou a falta de maiores compromissos relativamente a financiamento e considerou que não poderia voltar para África "sem um pacote significativo para adaptação" e "mais garantias" dos países desenvolvidos.
O representante da delegação chinesa, Zhao Yingmin, afirmou que o texto não é de forma alguma perfeito" e, apesar de não pretender "abrir de novo" a sua discussão, defendeu que deve haver "pequenas mudanças".
O enviado especial dos Estados Unidos para as alterações climáticas, John Kerry, considerou hoje que o projeto de acordo é "um passo importante, na direção certa", ainda que nem todos os países se sintam desconfortáveis com alguma parte do documento.
O Brasil manifestou-se hoje satisfeito com o "equilíbrio delicado" encontrado nos textos finais da conferência climática da ONU COP26, destacando sobretudo os compromissos sobre os mercados de carbono.
O presidente da conferência, Alok Sharma, considerou que chegou "o momento da verdade" para o planeta, desaconselhando que se mexa mais no texto, um "novelo" em risco de se desfazer se alguém puxar pelos fios.
Líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos estiveram até hoje reunidos em Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta a entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.