João Welsh critica visão estratégica da Madeira e pede preservação da identidade regional
João Welsh considerou ser “muito complicado” prever como será a recuperação após a pandemia, existem muitas variáveis e fenómenos repetitivos que podem condicionar essas perspectivas. “O turismo recupera sempre com grande força e é muito rápido”, disse o empresário, utilizando como exemplo os indicadores deste Verão. Por essa razão, é preciso estar preparado, até porque existem outros destinos que também estão a crescer. João Welsh disse ser fundamental olhar o património e preservá-lo e à sua identidade.
O empresário João Welsh, CEO da J.W. Holding, falava na XIV edição da Conferência Anual do Turismo, que decorre no Centro de Congressos da Madeira, numa apresentação sobre ‘Visão global da recuperação’, no painel II desta conferência.
João Welsh considerou que “um destino como a Madeira vai viver sempre dos mercados tradicionais”, pese embora existam indicadores de um tipo diferente de turista na Região.
Na sua apresentação quis falar sobre competitividade sustentável do turismo, olhando a Madeira como “um resort”. O empresário teceu comparações sobre o crescimento de hóspedes noutros destinos, mostrando que o crescimento de 2009 a 2019 foi de 50%, bem abaixo de outros como as Ilhas Baleares, Açores e Cabo Verde. João Welsh afirma que os prémios alcançados pela Madeira são mais para “satisfação interior” do que propriamente um resultado dos indicadores alcançados.
“Acho que os nossos profissionais do turismo da Madeira têm feito um trabalho fantástico, mas há outros aspectos que não podemos deixar de olhar”, disse, indicando ser necessário trabalhar do conteúdo para a forma. “O turismo não tem a tutela do conteúdo”, referiu, dizendo que o turismo apenas tem a tutela da promoção e, por isso, está condicionado. Por isso, indica que “os POT’s e Planos Estratégicos aprovados não têm uma visão coerente. Aliás, indica uma evolução desordenada do território.
Assim, a competitividade sustentável do destino passa por definir objectivos como a maximização de receitas do destino, por turistas e per capita dos accionistas (madeirenses). “O turista gaste mais […] e que seja o mais bem distribuídos possível com um aumento per capita dos madeirenses”, revelou.
O empresário frisou questões que considera importantes como os condicionalismos do aeroporto e ainda a dimensão da ilha, que tem capacidades de carga limitadas. Os activos estratégicos, na sua opinião, são a natureza e o património cultural e edificado. É necessário “coerência e um fio condutor com as especificidades da ilha”, isto porque “o território não é um produto transformável”. “Temos de ter muita cautela com a forma como desenvolvemos”, referiu, indicando que precisamos encontrar quem nos quem visitar, sem nos transformarmos naquilo que não somos. “O destino turístico não segue a lógica do marketing tradicional”, pois o produto é sempre o mesmo e não se pode transformar.
Para João Welsh, a narrativa política é assimétrica com a erosão, ano após ano, do mar, da natureza e dos seus principais activos. “Ouvimos falar de autenticidade e depois destruímos tudo”, critica.
O empresário defende que a tutela do Turismo deve passar para o presidente do Governo Regional, pois é quem pode gerir a forma e o conteúdo da Região.