Nobel da Paz alerta para urgência em defender o jornalismo, considera sindicato
O presidente do Sindicato de Jornalistas saudou hoje a atribuição do Nobel da Paz a dois jornalistas, que vê como um alerta para a urgência em defender o jornalismo e combater a desinformação e assim proteger os sistemas democráticos.
O Prémio Nobel da Paz foi hoje atribuído aos jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitry Muratov, da Rússia, pela defesa da liberdade de imprensa e de expressão.
"Acho que é um momento para celebrarmos, porque é uma mensagem muito importante que o Comité Nobel deu que é que neste momento é urgente defendemos o jornalismo e combatermos a desinformação e só há uma forma de o fazer que é com jornalismo", disse em declarações à Lusa o presidente do Sindicato de Jornalistas, Luís Filipe Simões.
O representante dos jornalistas alertou para a "crescente difusão de desinformação" que tem posto em "perigo as democracias um pouco por todo o mundo".
A atribuição do Nobel da Paz a Maria Ressa e Dmitry Muratov "foi um sinal muito positivo de que chegou o momento de acharmos que não basta o discurso. Temos, com atos, de fazer uma defesa efetiva e eficaz do jornalismo", acrescentou.
Luís Filipe Simões considerou que nesta luta pela defesa do jornalismo os governos têm um papel essencial a desempenhar: "É uma mensagem aos governos um pouco por todo o mundo para lhes dizer que este setor deve e tem de ser apoiado, porque é a única forma de não se corroerem, de uma vez por todas, os pilares das várias democracias de todo o mundo".
O presidente do Sindicato de Jornalistas lembrou que defender o jornalismo "é a única forma de defender as democracias" e garantir uma harmonia entre todos sem "narrativas comprovadamente falsas".
"A informação é jornalismo, porque nos temos que a verificar e isso é determinante nestes tempos", acrescentou Luís Filipe Simões, que acredita que o jornalismo consegue combater-se "as diversas narrativas manifestamente falsas que circulam a uma velocidade incrível".
"Há duas expressões utilizadas pelo comité sobre a Maria Ressa e Dmitry Muratov que são as palavras "corajosos" e "notáveis" que é no fundo o que devemos ser todos nós, jornalistas. O que eles demonstraram, com o trabalho deles, é precisamente isto, em defesa da liberdade de expressão, de imprensa, na luta contra alguns tiques e alguns abusos de poder temos de ser corajosos e notáveis. Só o jornalismo é que consegue mediar e verificar as informações e é a única via de termos democracias sustentáveis e uma paz efetiva", sublinhou.
Os dois jornalistas foram distinguidos "pela sua corajosa luta pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia. Ao mesmo tempo, são representantes de todos os jornalistas que defendem este ideal num mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas", justificou a presidente Comité Nobel Norueguês, Berit Reiss-Andersen.
Berit Reiss-Andersen lembrou hoje que "sem liberdade de expressão e liberdade de imprensa, será difícil promover com sucesso a fraternidade entre nações, o desarmamento e uma ordem mundial melhor para ter sucesso no nosso tempo".
Maria Ressa, 58 anos, "usa a liberdade de expressão para expor o abuso de poder, o uso da violência e o crescente autoritarismo" nas Filipinas, onde dirige o Rappler, um órgão de comunicação social digital que se dedica ao jornalismo de investigação e que cofundou em 2012.
O Comité Nobel destacou, em particular, o papel de Ressa e do Rappler na denúncia da "controversa e assassina campanha antidroga do regime" do Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte.
Para o Comité, o número de mortes desta campanha é tão elevado que "se assemelha a uma guerra travada contra a própria população do país".
Ressa e o Rappel também "documentaram como os meios de comunicação social estão a ser utilizados para espalhar notícias falsas, assediar adversários e manipular o discurso público".
Dmitry Muratov, 59 anos, é um dos fundadores do jornal independente Novaja Gazeta, criado em 1993, e de que é chefe de redação há 24 anos.
Para o Comité Nobel, trata-se do "jornal mais independente da Rússia, com uma atitude fundamentalmente crítica em relação ao poder".
"O jornalismo livre, independente e baseado em factos serve para proteger contra abusos de poder, mentiras e propaganda de guerra", disse Berit Reiss-Andersen.
Pelo seu jornalismo baseado em factos e a sua integridade profissional, o Novaja Gazeta é "uma importante fonte de informação sobre aspetos censuráveis da sociedade russa raramente mencionados por outros meios de comunicação social", acrescentou.
O Comité Nobel "está convencido de que a liberdade de expressão e a liberdade de informação ajudam a assegurar um público informado".
"Estes direitos são pré-requisitos cruciais para a democracia e a proteção contra a guerra e os conflitos", acrescentou.
Este prémio é o quinto dos anunciados até hoje, depois dos prémios de Medicina, Química, Física e Literatura, e antes do prémio de Economia, que será atribuído na próxima segunda-feira.
Os laureados irão receber um prémio de oito milhões de coroas suecas (cerca de 788 mil euros), além de um diploma e uma medalha.