Dmitry Muratov dedica prémio da Paz a jornalistas assassinados
O jornalista russo Dmitry Muratov dedicou o Prémio Nobel da Paz com que foi hoje distinguido, juntamente com a jornalista filipina Maria Ressa, ao jornal Novaya Gazeta e aos colegas assassinados pelo seu trabalho de investigação.
"Não é um mérito pessoal meu. É da Novaya Gazeta. É o mérito daqueles que morreram a defender o direito das pessoas à liberdade de expressão", disse Muratov, citado pela agência de notícias estatal russa TASS.
Muratov enumerou os seis jornalistas e colaboradores do jornal assassinados, incluindo Anna Politkovskaya, em 2006, segundo a agência de notícias France-Presse.
Numa reação ao prémio, o porta-voz presidencial russo destacou o talento e a coragem de Dmitry Muratov.
"Ele é fiel aos seus ideais. É talentoso e corajoso", comentou o porta-voz Dmitry Peskov no seu encontro diário com a imprensa, citado pela agência de notícias espanhola EFE.
Peskov acrescentou que o Kremlin felicita Muratov pelo prémio, embora não pudesse dizer se o Presidente russo, Vladimir Putin, tencionava saudar o jornalista pessoalmente.
A Novaya Gazeta anunciou que Dmitry Muratov vai doar parte do dinheiro do Prémio Nobel da Paz a um fundo de caridade que ajuda crianças que sofrem de doenças raras.
Fundada em 1993, a Novaya Gazeta tem sido um alvo regular de intimidações e ataques.
Nos últimos anos, o jornal publicou investigações sobre as atividades de grupos paramilitares russos e sobre a perseguição das minorias sexuais na Chechénia.
O anúncio do Prémio Nobel ocorreu no dia seguinte à passagem dos 15 anos do assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, que foi morta a tiro em 07 de outubro de 2006.
Tal como em vários outros assassinatos com motivações políticas na Rússia, os autores do crime foram condenados, mas a pessoa ou pessoas que ordenaram a sua morte nunca foram identificadas.
Igor Domnikov foi outro colaborador da Novaya Gazeta assassinado, em 2000, a mando de um empresário alvo de uma investigação jornalística.
Segundo a Novaya Gazeta, Yuri Shchekochikhin, que escreveu sobre corrupção e a Chechénia, entre outros temas, foi envenenado em 2003, mas as autoridades encerraram o caso, dizendo não haver provas de que tivesse sido cometido um crime.
O advogado Stanislav Markelov e a 'freelancer' da Novaya Gazeta Anastasia Baburova foram mortos a tiro na rua por um ativista de extrema-direita em 2009.
A antiga representante de uma organização de direitos humanos na Chechénia Natalia Estemirova, próxima de Anna Politkovskaya, foi raptada e morta em 2009, depois de ter denunciado no jornal os abusos cometidos pelas autoridades locais.
Dmitry Muratov, 59 anos, e a jornalista filipina Maria Ressa, 58, forma distinguidos hoje com o Premio Nobel da Paz "pela sua corajosa luta pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia".
"Ao mesmo tempo, são representantes de todos os jornalistas que defendem este ideal num mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas", disse a presidente do Comité Nobel Norueguês, Berit Reiss-Andersen, ao anunciar o prémio, em Oslo.