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Patronato insatisfeito com recusa de Boris Johnson a recrutamento de imigrantes

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FOTO EPA/NEIL HALL

Líderes empresariais reagiram com ceticismo ao discurso do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, incluindo alguns que votaram a favor do 'Brexit', mas dizem agora sentir-se espremidos como "esponjas" perante a atual crise de escassez de mão-de-obra no Reino Unido.

Num discurso na quarta-feira, no encerramento do congresso anual do Partido Conservador em Manchester, Boris Johnson defendeu a estratégia de controlar a imigração para acabar com a mão-de-obra barata, garantindo que esta foi uma das premissas da saída da União Europeia (UE) decidida num referendo em 2016.

Num tom otimista, afirmou que o país deve tornar-se uma "economia com salários altos, qualificações altas, produtividade alta e impostos baixos", embora tenha admitido que tudo isto "levará tempo" e será "às vezes difícil".

Mas alguns líderes empresariais questionam esta estratégia devido aos problemas de abastecimento que atingem o país, dos postos de combustíveis às prateleiras dos supermercados, em grande parte devido à falta de condutores de veículos pesados, estimada em 100 mil vagas por preencher.

Muitos camionistas europeus voltaram aos seus países de origem devido ao 'Brexit' e à pandemia, e as regras de imigração mais rígidas complicam o seu regresso ou recrutamento na UE.

Vários líderes empresariais advertiram que virar as costas a esses trabalhadores imigrantes para favorecer uma força de trabalho local mais bem paga resultará no aumento da inflação e que, no final, serão os consumidores a arcar com o custo.

Em declarações hoje à BBC, Richard Walker, diretor-gerente da rede de supermercados Iceland, que votou a favor do 'Brexit', acusou o Governo de tratar as empresas como "esponjas", quando elas não podem "absorver" todos os aumentos de custos, contas de energia e a contratação de mais condutores.

"O setor de supermercados do Reino Unido é um dos mais competitivos do mundo. As nossas margens são muito, muito estreitas e não somos uma esponja sem fim que pode simplesmente absorver todos esses aumentos de custos diferentes", lamentou.

Simon Wolfson, presidente-executivo da rede de lojas de roupa Next e também pró-'Brexit', disse que havia "pânico e desânimo reais" em alguns setores.

Segundo ele, a escassez de mão-de-obra que também afeta os setores agroalimentar, de alimentação ou de distribuição, não pode ser resolvida sem recorrer a trabalhadores estrangeiros, mesmo não se opondo ao controlo da imigração.

"Quando existem restaurantes a dizer que não podem servir refeições porque não têm pessoal para abrir, algo está muito errado na nossa economia", disse à estação ITV. 

O centro de estudos liberal Adam Smith Institute classificou o discurso de Boris Johnson de "bombástico, mas sem sentido e economicamente ignorante". 

Ryan Shorthouse, diretor do centro de estudos conservador Bright Blue avisou, em declarações ao jornal The Guardian, que "a população vai cansar-se em breve das piadas de Boris se o Governo não controlar as crises crescentes: aumento de preços, impostos, escassez de combustível, escassez de mão-de-obra".

Uma crítica partilhada pela Federação das Pequenas Empresas. 

"Estamos a pedir ao Governo menos conversa e mais ação", disse a vice-presidente do FSB, Tina McKenzie, à estação Sky News.