Episódios de Violência/Irreverência.
É ponto assento que a paz é a aspiração e o desejo fundamental de todo o ser humano. Entretanto, poderá ser atingida com a ordenação da potencialidade da sociedade e do poder público em torno do ideal comum de uma segurança justa, cooperativa e interativa
Num país como o nosso, a sociedade clama por uma segurança pública mais eficaz e mais presente, nota-se que o organismo estatal se sente impotente e incapaz, para debelar sozinho a crescente onda de violência que assola algumas cidades portuguesas, onde a vida noturna tem sido palco de confrontos e de esfaqueamentos por parte dos jovens adultos. Mas, é bom questionar se essa irreverência é só da juventude. Será que é? Penso que não, muito embora se levantem outras questões associadas.
O horror de tais episódios não nos pode passar ao lado como se fosse um simples vendaval que nunca mais volta. A sua imagem e a lembrança que dela temos, formam a recordação que jamais esqueceremos.
Para alguns poderá parecer uma asneira o que escrevo, mas está cada vez mais insustentável fingir que não estamos dentro de uma crise de índole social em Portugal, que teve início após o relaxamento das medidas restritivas para o combate à Covid-19.
Numa abordagem pessoal, é fácil dizer porquê; é fácil de perceber porquê que a violência que atinge os jovens, o cidadão, atinge também a Polícia e o Governo. Atinge toda a sociedade. Todos nós estamos na mesma aflição. Esse é um problema cultural, igualmente social que nós temos, de nos enganarmos. Por que em Portugal é feito dessa forma e funciona.
Isto, por si só, demonstra que a Polícia de Segurança Pública (PSP), como figura principal encarregada de manter a ordem pública para a consequente prestação da paz social, precisa da conscientização e cooperação de toda a sociedade para alcançar os seus objetivos e sanar muito dos acontecimentos lamentáveis e violentos recentemente sucedidos em Lisboa, no Porto, e um pouco por todo o país.
Parece-me, inclusive, que o cidadão, na sua maioria, ainda tem a polícia como se fosse esta instituição a única responsável pelo combate da violência no país, a principal responsável pelo “agravamento” da violência e da criminalidade, como se fossem então os policiais seres Onipotentes e Onipresentes para estarem em todos os lugares a todo o momento a fim de evitar ou descobrir crimes como num passe de magia.
É, por isso, que a Lei entrega à Polícia o poder do uso da força. Essa exclusividade da violência legal visa tão somente ajudar a regular as interações sociais. Através desse poder legitimado e da função específica de manter a ordem pública, a sociedade espera da sua Polícia toda a proteção possível e até impossível, entretanto, pouco ou nada faz para ajudá-la.
Há que considerar, ainda, que como profissional, há muitos anos me habituei a saber que durante muito tempo, a sociedade pouco se incomodou com a questão da violência, da criminalidade e tinha a Polícia apenas como um mal necessário quando na verdade é esta valorosa instituição de defesa do cidadão, um bem essencial, um real instrumento da cidadania e da ordem pública. A Polícia é antes de tudo a guardiã das Leis Penais e o alicerce da Justiça. Sem a Polícia haveria o caos social absoluto.
De facto, fica a sensação de que na mesma velocidade em que a violência e a delinquência avançam no nosso país por motivos diversos, o crime organizado pode ganhar forças principalmente com o tráfico de drogas, que termina sendo a raiz de todos os outros crimes subsequentes, tais como: homicídios, furtos, roubos, corrupções, extorsões e lesões corporais graves.
Pese o exposto, se mais não for, esta violência gratuita serve de aprendizagem para o futuro coletivo.
É tempo de acordar antes que seja tarde. É necessário acabar com esta violência, com esta irreverência dos jovens e pensar que ninguém está a salvo de coisa nenhuma. Não é defeito nenhum ser-se irreverente. Antes pelo contrário. O que é preciso é ser-se ajuizado e responsável simultaneamente.