O dia de todos os santos e o chumbo do OE
O Presidente da República poderia exigir ao governo a apresentação de um documento mais consensual e não atiçar logo com eleições
Este feriado tinha sido eliminado do calendário do governo de direita com a Troika a comandar. Para além deste, outros tinham sido eliminados e foi graças ao acordo da Geringonça que os feriados foram repostos, assim como outros direitos, tais como o subsídio de férias e de Natal por inteiro, que nos tinham sido roubados.
Se falo nestes exemplos, é para refrescar as memórias de algumas “alminhas” que andam por aí a injuriar os acordos do governo com os partidos à sua esquerda, como se fosse o mal deste Pais. Esta gente não sabe o que diz ou, mesmo sabendo, querem se fazer de ignorantes propositadamente.
Tenho ouvido e lido tanto ódio e tanta maldade, em relação à falta de acordo no orçamento para 21/22, que me dói o coração, sobretudo quando vem de gente que se considera de esquerda e que chega ao desplante de tratar os/as seus/suas líderes como canalha e outras coisas mais…
Se ser canalha é apresentar propostas bem fundamentadas e bem estruturadas para defender os interesses sobretudo do povo que mais precisa, desde a classe média cada vez mais empobrecida com a carga de impostos, aos/às trabalhadores/as que vivem permanentemente em situação de precariedade sem saber o que lhes reserva o futuro, como são as diversas classes profissionais, que passam quase uma vida inteira contratadas a prazo e ainda se admiram da baixa taxa de natalidade e do envelhecimento do País. Ninguém gosta de colocar crianças no mundo sem poder lhes garantir o mínimo para terem uma infância feliz. A máxima de antigamente “temos de aceitar todos os filhos que Deus quiser” já passou à história há muito tempo;
Se ser canalha é defender um salário mínimo decente e exigir uma segurança social com respostas adequadas aos problemas sociais graves que a pandemia veio agravar, exigir um rendimento de subsistência para que ninguém fique a morrer à fome e que, quem tem um grau de deficiência maior, se possa reformar mais cedo sem penalização;
Se ser canalha é exigir mais investimento no sector da saúde e da educação por forma a dar resposta aos graves problemas com que se debatem as escolas e as famílias, desde as enormes listas de espera, para tudo e mais alguma coisa, assim como responder aos novos problemas que estão colocados com as várias toxicodependências, de novas formas gravíssimas, sem que se vislumbre respostas adequadas, a todos os níveis, levando à degradação de milhares de jovens, e até crianças, deste País, pondo em causa o seu futuro;
Se ser canalha é exigir estas e outras respostas explicadas em pormenor em muitas horas de debate, tendo como respostas o vazio e a falta de compromisso por parte do governo que, como sempre, está mais preocupado em agradar à Europa, do que responder à vida concreta dos portugueses. É caso para dizer que, então, eu prefiro ser “canalha” a apoiar um documento que é fundamental para o País e que não responde ao que é mais importante para as suas populações.
Há tanta empresa e Instituição a precisar de apoio que umas eleições antecipadas não vêm resolver. Pelo contrário, vêm atrasar as respostas aos graves problemas que enfrentam. O Presidente da República poderia exigir ao governo a apresentação de um documento mais consensual e não atiçar logo com eleições antecipadas que não interessam ao País de forma nenhuma. Eles é que sempre tiveram as cartas e os trunfos na mão. Está visto que eles é que querem eleições, porque o povo o que quer são respostas para os seus problemas.