Igreja Católica na Venezuela acusa políticos de não estarem em sintonia com necessidades do povo
A Igreja Católica venezuelana acusou os políticos afetos ao Governo e à oposição de não estarem em sintonia com as necessidades do povo e que as eleições de novembro não podem ser promovidas como solução para a crise.
"Parece que uma coisa é a realidade do país e outra é o tipo de campanha eleitoral. A mensagem dos líderes de um lado e de outro, que parecem estar a falar para outro país sem ter em conta as necessidades do povo", disse o arcebispo de Caracas aos jornalistas.
Baltazar Porras lembrou que a Venezuela vai a eleições regionais e municipais, em 21 de novembro, sublinhando, no entanto, que a questão não é simplesmente decidir votar ou não, analisar se há condições ou não, se as negociações entre o Governo venezuelano e a oposição estão ou não suspensas, ou se há unidade ou não entre fatores políticos.
"A verdadeira unidade é a de todo o país, dos que sentem ou pensam diferente uns dos outros, ter como Norte o bem de todos os venezuelanos e não apenas de uma parcialidade (política) ou outra (...), esse Norte é procurado com intensidade, mas não com situações ou posições extremas, exige uma racionalidade para além da emocionalidade", disse.
O cardeal anunciou que nos próximos dias o episcopado fará uma declaração sobre a necessidade de procurar o verdadeiro significado do povo e não criar uma boa imagem, quer dentro, quer fora da realidade.
Como exemplo referiu que anúncios publicitários de algumas lojas que abriram recentemente e que propõem "um Natal venezuelano, onde, em primeiro lugar, não há nada venezuelano e, em segundo lugar, os preços fazem perguntar qual a percentagem de venezuelanos que pode ter uma árvore de Natal que custa milhares de dólares, quando há outras coisas que são realmente mais importantes" no país.
"Precisamos refletir e falar com os líderes de um lado e do outro (...), fazer os venezuelanos sentir que estão a ser ajudados e que num momento de crise, de muitas necessidades, que há uma luz no túnel", disse o religioso.
Baltazar Porro alertou que "não se pode apresentar o 21 de novembro (dia das eleições) como uma solução" para o país, sublinhando que "não se trata de colocar ou afastar alguém".
"Nas condições em que nos encontramos não é possível superar as coisas com paninhos quentes, faz falta uma reforma muito mais profunda", sublinhou o arcebispo.
Por outro lado, instou os líderes políticos a aproximarem-se da realidade e a procurarem soluções comuns, "não a imposição de um 'slogan'" ou um "sentido político muito errado" de querer manipular as pessoas em função de interesses, de apetências pessoais ou partidários.
"Há uma falta de bom senso nos candidatos (...), temos dito que é preciso encontrar uma solução pacífica e eleitoral", sublinhou.
Por outro lado, instou os venezuelanos a irem às urnas, no próximo 21 de novembro.
"Podemos dar todas as desculpas, mas temos que participar para pôr em evidência determinadas coisas, não podemos ser apenas espetadores, temos que ser protagonistas do que queremos", frisou o arcebispo de Caracas, cardeal Baltazar Porras.
As próximas eleições regionais e municipais venezuelanas estão marcadas para 21 de novembro e nelas serão eleitos 3.082 candidatos que exercerão funções em 335 municípios, 23 Estados e no Distrito Capital.
A campanha eleitoral começou hoje e segundo o Conselho Nacional Eleitoral, foram apresentadas 70.244 candidaturas.
A Venezuela tem uma população de 33.192.835 cidadãos, dos quais 21.159.846 estão registados no sistema eleitoral.