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Plano deve incluir a valorização do trabalho e do trabalhador

A pandemia que atravessamos desde março do ano transato antecipou muitas mudanças no mundo do trabalho, sendo o teletrabalho a parte mais visível de um conjunto de mudanças que estão a acontecer e que se caracterizam pelo declínio dos empregos nomeadamente na indústria transformadora, estagnação ou perda de salários, alterações nas relações laborais com o aumento generalizado do trabalho atípico e flexível, num processo económico cada vez mais informal.

O quadro pandémico também evidenciou a importância dos serviços públicos, particularmente o setor da saúde, que apesar das crónicas fragilidades e dos constrangimentos porque passou, manteve o seu regular funcionamento dando resposta imediata e resiliente aos problemas colocados pela pandemia.

A crise social e económica originada pela pandemia conduziu a União Europeia a uma das mais profundas recessões da sua história e é neste contexto que os líderes europeus reagiram apoiando a proposta da Comissão Europeia para criar um novo orçamento europeu que fizesse face aos desafios colocados de forma a enfrentar a crise e recuperar a economia numa base solidária e sustentável a médio e longo prazo.

Tendo em consideração os instrumentos atualmente disponíveis é fundamental que esta não seja mais uma oportunidade perdida nas mudanças que se impõe fazer; é necessário alterar o perfil produtivo do País, contrariar a crónica tendência de baixos salários, e promover empregos dignos.

É essencial que o plano apresentado não seja utilizado na obsessiva consolidação orçamental, numa europa que se pretende coesa e solidária, pois o dinheiro atribuído deve proporcionar novas oportunidades de investimento que possibilitem fazer uma transição pacífica para a economia verde e digital, fazer uma justa transição laboral, atingindo as metas climáticas de forma socialmente equilibrada e sustentável. Deve ter por objetivo aumentar a produtividade e a procura interna, num processo negocial com os sindicatos em sede de negociação coletiva.

No momento em que se avizinha a apresentação do orçamento de estado para 2022, e passado mais de uma década de estagnação salarial, ainda persistem muitas injustiças decorrentes do processo de descongelamento das carreiras dos trabalhadores da administração pública.

Preparando a negociação com o governo as organizações sindicais elaboraram um documento a elencar os problemas com que se confrontam os trabalhadores dos serviços públicos entre os quais se salienta a desvalorização dos salários e das condições de trabalho, a revisão das carreiras a fim de corrigir muitas injustiças que permitam valorizar os percursos profissionais e motivar efetivamente os trabalhadores.