Estudo académico urge políticos a considerarem consequências de medidas ambientais
Investigadores de universidades britânicas alertam líderes políticos participantes na cimeira do clima em Glasgow para que prestem mais atenção às consequências das medidas que tomam, para garantir que favorecem tanto o bem-estar humano como a resiliência às alterações climáticas.
Num estudo publicado ontem no boletim científico Nature Sustainability e intitulado "Conciliar bem-estar e resiliência para o desenvolvimento sustentável", cientistas das universidades de Exeter e de Lancaster alertam para o risco de uma "visão simplista".
"O bem-estar e a resiliência estão fortemente presentes nas metas políticas, especialmente aquelas relacionadas ao desenvolvimento sustentável. Presumir que as duas coisas vão juntas automaticamente não ajuda. Quando esse erro é cometido, geralmente são as pessoas mais pobres e marginalizadas que sofrem", afirmou Nathanial Matthews, um dos co-autores e presidente executivo da Global Resilience Partnership.
Por exemplo, após o tsunami de 2004, uma nova legislação na Índia e no Sri Lanka impediu que casas e empresas fossem reconstruídas perto da costa, a fim de criar zonas de segurança e aumentar a resiliência contra futuros tsunamis.
"Isso forçou as pessoas que dependiam do mar por razões económicas, culturais e sociais a mudarem-se para vilas isoladas no interior, prejudicando o bem-estar de diversas maneiras", referiu Tomas Chaigneau, do Instituto de Meio Ambiente e Sustentabilidade da universidade de Exeter, na Cornualha.
Os responsáveis pelo estudo, que inclui também a universidade de Northumbria e o Stockholm Resilience Centre, criaram uma página eletrónica (www.navigating-complexity.com/) onde dão mais exemplos dos compromissos e consequências das decisões tomadas em países como Bolívia, Ruanda ou Bangladesh.
"Se quisermos construir resiliência a longo prazo, ao mesmo tempo em que abordamos os desafios ambientais contemporâneos, é vital prestar atenção a uma visão inclusiva do bem-estar humano", resume a professora Christina Hicks, de Lancaster University.
O alerta, dizem os investigadores, pretende ser um contributo para o debate global sobre alterações climáticas que irá decorrer entre 01 de 12 de novembro em Glasgow na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26)