Crónicas

Acabou a geringonça

Estes partidos radicais sejam eles de direita ou de esquerda raramente aceitam fazer parte de uma estrutura governativa

A solução inédita encontrada há cerca de 6 anos para governar o país entre o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português chega agora ao fim. Seria aliás expectável que uma coligação de interesses que se juntou única e exclusivamente com o intuito de afastar o centro direita do poder (por altura de Pedro Passos Coelho) e que pouco teria em comum mais cedo ou mais tarde ruísse. O que fica com o chumbo deste orçamento declaradamente de esquerda é que fosse o que fosse apresentado teria sempre o voto contra dos partidos da chamada esquerda radical. Porque mais uma vez o exemplo que chega da classe política é o oposto ao que tanto apregoam. Ou seja voltam a colocar os seus interesses à frente do interesse de Portugal e dos portugueses. Ninguém quis ser o último a sair de um barco nitidamente a naufragar, de um governo absolutamente desgastado e que deu mostras de não ter uma estratégia definida para o país e por isso começaram-se a jogar já ontem os interesses para as mais que prováveis próximas eleições legislativas.

Parece-me evidente que é muito fácil ser-se governo apenas para distribuir riqueza, para dar mais, para gastar, mas como diria Margaret Tatcher “alguém tem de fazer contas. Toda a empresa tem de fazê-lo, toda a dona de casa tem de fazê-lo e todo o Governo o deve fazer também”. Por isso é que estes partidos radicais sejam eles de direita ou de esquerda raramente aceitam fazer parte de uma estrutura governativa. Porque o discurso de protesto esvazia-se quando passamos a ter que tomar decisões e a ser responsáveis por elas. E nem todas gente tem perfil para tomar decisões difíceis, de se arriscar a ser impopular em prol do crescimento e da sustentabilidade do País. Por isso é que mais uma vez parece que somos transportados para esse Maio quente de 68 em França em que a frase que mais ecoava entre as estruturas sindicais e os jovens era “sejam realistas, exijam o impossível”. Foi isso na realidade que o Bloco e o PCP fizeram para justificar o voto contra no orçamento. Estavam no fundo a esticar a corda e a jogar a sua sobrevivência política talvez preocupados com o resultado nas anteriores autárquicas e com a colagem a um governo a definhar.

O problema para o qual nos devemos todos debruçar e com urgência é em perceber que há um princípio básico na vida. Nós não podemos dar aquilo que não temos e que para termos mais, temos que construir e desenvolver mais. É assim na vida mas também na política. Não é possível sem crescimento económico, sem as empresas terem mais recursos, sem o tecido empresarial estar desenvolvido o Estado distribuir mais pela população. Não se pode distribuir riqueza sem a criar primeiro. Às vezes penso que ainda há por aí pessoas que pensam que se temos uma máquina que imprime notas no Banco de Portugal, é uma estupidez não serem impressas mais, para que toda a população viva bem. A verdade é que o dinheiro não cresce do ar, alguém tem que o ganhar, alguém tem que trabalhar. E quanto mais gordo é o Estado, mais impostos teremos forçosamente de pagar para o alimentar. E parece que para certos partidos essa coisa do privado ainda é um palavrão. Como se fosse crime alguém poder ambicionar algo mais, querer ter sucesso e criar riqueza para si, fruto do seu trabalho e da sua abnegação.

Essa é para mim a grande diferença entre a esquerda e a direita e que está perfeitamente ilustrada na celebre fábula do peixe e da cana. Para a esquerda devemos distribuir peixe por toda a gente, para que assim toda a gente fique alimentada e feliz. A direita prefere dar a cana para que as pessoas possam aprender a pescar e a desenvolver a sua própria independência económica e financeira. O problema dos primeiros é que assim que percebem que têm peixe sempre, trabalhem ou não, vão-se encostar à espera que outros o façam. É fundamental por isso termos a perfeita noção do que aí vem. De que se nos queremos afastar da cauda da Europa, se queremos ter melhores salários e melhores condições de trabalho e de vida temos forçosamente que nos focar na prosperidade económica de Portugal. E isso só lá vai apostando nas empresas, diminuindo a intervenção e a dependência do Estado e fazendo reformas estruturais que nos coloquem com as melhores práticas para assim ficarmos mais próximos do topo e não da cauda da União Europeia.