Navio com 367 migrantes a bordo pede porto seguro face ameaça de furacão
O navio "Geo Barents" da organização não-governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF), com 367 migrantes resgatados no Mediterrâneo a bordo, pediu hoje com urgência um porto seguro para desembarque devido à iminente chegada de um furacão à zona.
"Com 367 sobreviventes a bordo, 172 menores de idade, não podemos esperar mais. O 'Geo Barents' precisa de um porto seguro imediatamente!", escreveu a ONG na rede social Twitter.
E reforçou: "Há 367 pessoas no 'Geo Barents' que passaram por experiências terríveis. Agora ainda têm de lidar com um furacão. Quantos obstáculos estes seres humanos devem enfrentar antes que possam ser levados para um lugar seguro em terra? Instamos as autoridades italianas a darem-nos um porto seguro".
O mau tempo que está a afetar o sul de Itália, influenciado pela chegada de um furacão mediterrâneo (também conhecido como "medicane") com ventos de até 100 quilómetros por hora e fortes chuvas, está a chegar à zona onde está a navegar o navio da MSF.
A ONG internacional precisou que entre os 172 menores que estão a bordo do "Geo Barents" constam crianças pequenas e adolescentes e que 134 estão sozinhos, ou seja, sem a companhia de familiares.
"Imagine estar numa embarcação sobrelotada sem colete salva-vidas. Imagine estar cercado por ondas de até três metros de altura enquanto as suas roupas ficam encharcadas e inala combustível. Imagine ficar sem comida e água à medida que o tempo passa, sem proteção contra o sol, vento e chuva. Imagine pedir ajuda e ninguém responder. Essa é a realidade que estamos a testemunhar no mar", relatou, num comunicado, a coordenadora da missão, Caroline Willemen, que se encontra a bordo do "Geo Barents".
Na passada sexta-feira, a tripulação do "Geo Barents" realizou um primeiro resgate no Mediterrâneo que envolveu o salvamento de 36 migrantes.
No decorrer deste salvamento, o navio humanitário recebeu um novo alerta, desta vez de um bote de borracha em perigo, que estava localizado a várias horas de distância.
Após algumas horas, outros 65 migrantes subiram a bordo do "Geo Barents", que receberia, nesse mesmo dia, um terceiro alerta.
"Outra embarcação de madeira sobrelotada estava em perigo e embora as autoridades estivessem conscientes da situação, ninguém respondeu ou interveio", denunciou a ONG.
"Este é outro exemplo claro de como os Estados costeiros se recusam a assumir qualquer responsabilidade pelas pessoas em perigo no mar. Esta embarcação esteve em águas perigosas durante três dias, com 100 pessoas a bordo, incluindo 42 crianças", apontou Caroline Willemen, lamentando esta situação "inaceitável".
No dia seguinte, a 23 de outubro, já com 201 pessoas a bordo, o "Geo Barents" resgatou outros 95 migrantes.
O último resgate aconteceu no domingo e envolveu o salvamento de outras 71 pessoas.
Durante as operações, o navio humanitário testemunhou, de acordo com a ONG, como a guarda costeira líbia intercetou algumas embarcações com migrantes e as devolveu à Líbia, país que não é considerado um porto seguro.
"Estes dias (de resgates) enfatizam a catástrofe humanitária que está a ocorrer na fronteira sul da Europa. Com apenas navios humanitários a vigiarem a rota migratória mais mortífera do mundo, é necessário desesperadamente aumentar a capacidade de busca e de resgate. Agora pedimos a Itália que forneça um lugar seguro o mais rápido possível", concluiu a coordenadora da missão.
Nos últimos tempos, e perante a ausência de resposta por parte das autoridades de Malta aos pedidos dos navios de resgate humanitário, Itália tem assumido todo o fluxo de migrantes da rota central do Mediterrâneo, que sai da Líbia, Argélia e da Tunísia em direção aos territórios italiano e maltês.
Itália, a par da Grécia, Espanha, Malta ou Chipre, é um dos países da "linha da frente" ao nível das chegadas de migrantes irregulares à Europa.