In Memoriam Joseph Donald Silva
Nunca estamos preparados para receber a notícia da morte dos nossos amigos, sobretudo quando a mesma nos chega de chofre. Nesta sexta-feira de manhã a infausta nova chegou até mim através do Prof. Nelson Veríssimo.
Donald Silva, como era mais conhecido entre nós, nasceu em Lowell, Massachusetts, nos Estados Unidos, em 1935, no seio de uma família portuguesa, pois era neto de emigrantes oriundos do Campanário. Era Professor Emérito da Universidade de New Hampshire, onde ensinou inglês durante trinta anos.
Este ilustre luso-descendente tinha um amor enorme pela Madeira, que visitou pela primeira vez em 1970 e, desde 1980, veio cá todos os anos, sempre em Dezembro. Com imensa pena sua não pôde vir cá no ano passado, por causa da pandemia, mas para este ano já tinha viagem marcada para essa altura e sabemos que ansiava por regressar a esta terra, que considerava como sua e onde se sentia bem acolhido devido ao facto de aqui ter granjeado muitos e bons amigos.
Frequentador assíduo da antiga Biblioteca de Culturas Estrangeiras, onde havia o ‘American Culture Corner’, desenvolveu uma amizade com a sua antiga directora, a Dra. Maria do Carmo Santos que, ao saber da sua erudição, o convidou a realizar uma série de palestras com temas à sua escolha. Assim sendo, todos os anos que vinha à Madeira trazia sempre consigo na bagagem o texto duma nova prelecção para apresentar no Funchal, sobretudo relacionadas com as ligações históricas entre a Madeira e a América. Após a extinção dessa biblioteca, continuou sempre a apresentar conferências entre nós, algumas na Biblioteca Municipal do Funchal e a última das quais, em Janeiro de 2019, subordinada à temática da história do turismo na Madeira, foi realizada na Casa-Museu Frederico de Freitas, que contou com casa cheia.
Fruto da sua enorme ligação afectiva à Madeira, publicou diversas obras sobre a nossa ilha, das quais destacamos as relacionadas com a bibliografia madeirense, o romance histórico Black Kestrel, baseado nas vivências dos seus avós no Campanário, e o livro The Magnolia Lectures, onde reuniu os textos das diversas conferências realizadas a convite da extinta Biblioteca de Culturas Estrangeiras. Para além de difundir a Madeira nos seus livros, publicados nos Estados Unidos, foi um grande divulgador da nossa terra junto dos seus amigos e familiares, muitos dos quais o acompanharam, ao longo dos anos, nas suas viagens anuais à nossa ilha.
A 22 de Setembro do presente ano foi homenageado pelo Governo Regional da Madeira através da atribuição da Medalha de Ouro por excepcionais serviços prestados à Região, e pediu-me que o representasse nessa cerimónia, o que fiz com muito gosto. Foi a última vez que falei com ele, por e-mail, como sempre fazia quando ele estava ausente da ilha, e pude testemunhar a enorme alegria que ele sentiu por este inesperado mas justo reconhecimento. Foi uma das últimas alegrias que teve em vida.
Vitimado por uma pneumonia faleceu na passada terça-feira, 19 de Outubro, num hospital do Estado de New Hampshire, onde vivia. Contava 86 anos e deixou a viúva, Lucy Niles Silva, que sempre o acompanhou nas suas inúmeras viagens à Madeira, assim como quatro filhos, oito netos e cinco bisnetos.
Não é fácil perder um amigo de vinte anos mas a vida tem destes imponderáveis. Um dia estamos cá e no outro já não. Que a sua alma descanse em paz.
Duarte M. B. Mendonça