Squid Game
Fiz por ouvir o debate mensal na Assembleia Legislativa da Madeira. Um verdadeiro jogo de ping-pong, desinteressante de tão previsível que o foi
1. Disco: “Dark Matters”, dos The Stranglers, acabado de sair. Porque são os Stanglers, porque é bom, porque sim. Uma banda de que sempre gostei muito. Foram uma espécie de párias da música dos finais dos 70 e início dos 80’s. Não encaixavam muito bem nos modelos do seu tempo. Talvez por isso, o seu sucesso.
2. Livro: “O Século XX Esquecido, Lugares e Memórias”, de Tony Judt, é um livro que resulta da recolha de uma série de ensaios e artigos que foi escrevendo, no New York Review of Books. Uma análise do século XX e início deste em que vivemos. Uma visita a uma série de pensadores que nos ajudam a perceber estes tempos.
3. Uma semana onde nem sei por onde começar. Já não tenho idade para tanta coisa. Ver Miguel Albuquerque, um assistencialista por excelência, armar-se em mau com os desempregados que, algumas das vezes, não aceitam empregos porque mal pagos e a ter de fazer horários quebrados, deixou-me de queixo caído. Tenho o maior dos respeitos pelos empresários da restauração e da hotelaria. Já lá andei e sei o que custa. Tive o cuidado, na altura, de ir ao Sindicato (onde fui recebido por um senhor que me tratou como um sanguinário capitalista) perguntar pelas tabelas e paguei sempre segundo os valores acordados, e os meus colaboradores tiveram sempre horários corridos.
Nesta questão, os culpados são todos. São culpados os que entram para as entrevistas de papel na mão a pedir, sem ouvir o proposto, que este seja assinado a dizer que não serve para a função, são alguns empresários sem escrúpulos que querem dado e arregaçado, e são os Governos, de cá e de lá, e as Câmaras, que sustentam a inanição com cheques e cabazes, ao invés de cumprirem o seu papel elaborando as condições para a criação efectiva de riqueza. Montam a teia de dependentes e, depois, culpam-nos por o serem. Sr. Presidente, são eles os que lhe enchem os carros e carrinhas para, em dia de eleições, o manterem, e aos interesses que representa, no seu lugar.
4. Deus queira que esteja enganado, e logo farei um acto de contrição se assim for, mas haverá aí alguém que, no seu perfeito juízo, pense que o Governo Regional transferirá competências do PRR para as Câmaras, quando tem eleições regionais daqui a dois anos?
5. Temos a 6.ª maior taxa de desemprego jovem, da UE. Não é que a situação seja assim tão diferente de outros países europeus com características semelhantes às nossas. Mas é factor que potencia emigração e consequente diminuição da população residente.
Não nos podemos dar ao luxo de perder mais uma geração altamente qualificada. No PRR, não vejo muito por onde possamos estancar a saída, do país e da região, dos nossos jovens, que levam consigo a sua força de trabalho e qualificações, criando riqueza noutras paragens. Esta geração não tem nada a ver com a que, nos anos 50 e 60, emigrava para mandar dinheiro para a santa terrinha. Nem disso beneficiamos agora.
6. Dois Booker Prizes, um Arthur C. Clarke e um Franz Kafka Prize, bem como um National Book Critics e um PEN Center USA Lifetime Achievement Awards. Margaret Atwood, mais do que merecedora de ganhar o Nobel que nunca ganhou, a autora de “A História de Uma Serva” que deu origem à fabulosa série “The Handmaid’s Tale”, é o novo alvo dos “wokes” do merdoso politicamente correcto.
Uma mulher (será que o posso escrever?), cuja obra é uma denúncia dos desvarios que levam às desigualdades entre homens e mulheres, por partilhar um tweet, é agora o alvo dos que defendem que quando se refere a gravidez, se deve ter o cuidado de empregar o termo “pessoa grávida”.
Dizia-me um bom amigo que tenho de ser mais tolerante. É isso, tenho de abarcar todos os requisitos válidos e essenciais a uma postura politicamente correcta de acção afirmativa, independente de raça, religião, idade, nacionalidade, naturalidade, género, identidade, possibilidade de engravidar, orientação sexual, abecedário, deficiência, estado civil, ou qualquer outra porcaria de que se lembrem.
Idiotice, palermice, tacanhez, ranhosice, velhacaria, são também estados que devo aturar, porque ninguém tem culpa de ser o que é.
Bem como manhosos, imbecis, estúpidos, mentecaptos, néscios, obtusos. Montar palco aos fanáticos, lerdos, maníacos, beatos, ignorantes, incultos e inscientes.
Dar espaço a todos, até a gente normal, conhecedora dos seus valores, qualidades e defeitos, sendo estes aqueles de quem gosto mais.
Não fossem chupar ranho para a avenida…como se costumava dizer.
7. Na semana passada foi um frenesim de tomadas de posse. Ouvi, com toda a atenção, o brilhante discurso de Carlos Moedas na dele. Disse ao que ia, por onde ia, como ia, convidando todos a com ele realizar o caminho. Foi magnânimo na vitória e um senhor na postura.
Não era pessoa que me enchesse as medidas, mas aumentou muito a consideração que tenho, agora, por ele.
Dois dias depois, tomou posse o novo presidente da Câmara do Funchal. Ouvi o discurso. E é só isso…
8. Só retive uma coisa, do que disse o novo presidente da Câmara do Funchal: que prometia cumprir o seu programa na íntegra. Dei-me ao trabalho de recolher o que foi prometendo ao longo da campanha, porque programa (uma coisa que se escreve antes de uma campanha começar) não encontro em lado nenhum.
A lista é o resultado de uma busca rápida, logo até podem estar a faltar algumas promessas.
Com estes números, Pedro Calado, tem 1460 dias para levar avante as 112 promessas feitas aos funchalenses, o que dá, em média, a implementação de uma delas a cada 13 dias.
A lista está disponível, para quem quiser. Basta pedir.
9. Porque há muito o que fazer, toca a levantar às seis da matina, fazer exercício e tomar banho de água fria. Nomear a equipa de trabalho e avançar, ou vão ficar coisas por cumprir. Para a SocioHabita, vai Augusta Aguiar. Um momento “Squid Game”.
Conhecem o jogo das cadeiras? Aquele em que toca uma música, que acaba de repente, e todos têm que se sentar, e como há uma cadeira a menos, o que fica de pé é eliminado?
Esta é a versão em que nunca há cadeira a menos. Tem alturas em que até se lhe acrescentam cadeiras. O jogo nunca acaba.
No PSD Madeira nunca fica ninguém para trás. Custe o que custar.
10. Fiz por ouvir o debate mensal na Assembleia Legislativa da Madeira. Um verdadeiro jogo de ping-pong, desinteressante de tão previsível que o foi. Ping do lado dos socialistas rosa e pong do lado dos socialistas laranja.
Ao líder da bancada do PSD, do alto da sua empáfia, deu-lhe para asneirar. Os Açores têm a taxa mais alta do IVA nos 16%, a nossa é de 22%; o IRC tem a taxa mais baixa possível, tal qual a Madeira; não têm o adicional dos 15%, nos combustíveis, com que continuamos a levar, devido ao PAEF (o tal que já acabou, mas continua em vigor); a partir de Janeiro as taxas de IRS beneficiam de uma redução de 30%, face às taxas do Continente, e o senhor deputado chefe vem dizer que o Sr. Governo que apoia é o responsável pela maior descida de impostos efetuada no país. Ou não sabe o que diz ou, se sabe, mente. E isso fica muito feio a um deputado.
Depois vem o Fonseca babar as porcarias do costume. Quer que sigamos o nosso caminho? Trabalhe, crie legislação que permita avançarmos para um sistema fiscal próprio, para que possamos ser responsáveis pelo nosso destino dentro da portugalidade. Mas para isso era preciso trabalhar, não é?
Depois passei pelas brasas.
E a oposição? Estava lá. E é tudo.