ONG palestinianas declaradas terroristas por Israel pedem apoio internacional
As seis organizações não-governamentais (ONG) palestinianas declaradas terroristas por Israel na sexta-feira pediram hoje à comunidade internacional que se pronuncie contra a medida, que consideram "repressiva e intimidatória", e exigiram às autoridades israelitas a respetiva revogação.
Num comunicado assinado por mais de uma centena de organizações da sociedade civil palestiniana, incluindo as seis declaradas terroristas, é denunciada uma "tentativa nefasta e sem precedentes" de Israel de as silenciar e de as criminalizar, alertando-se também para o "risco de perigo iminente" para os respetivos trabalhadores.
As ONG alertaram para a "sistemática campanha" de Israel que, durante anos, bloqueou o trabalho de documentação sobre direitos humanos e de cooperação das organizações com congéneres internacionais e com as Nações Unidas.
Com base nisso, pediram que a comunidade internacional exija também a revogação da designação desses grupos como terroristas, exorte as autoridades israelitas a parar as políticas ilegais de intimidação e assédio contra a sociedade civil palestiniana, condene o uso ilegal da lei israelita nos territórios palestinos ocupados e expresse publicamente o não reconhecimento internacional desta medida, que descreveram como "um ato de 'apartheid'" (segregação racial).
Na sexta-feira, o Governo israelita anunciou ter incluído na lista de "organizações terroristas" seis ONG palestinianas acusadas de ligação à Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), uma decisão imediatamente criticada por defensores dos direitos humanos.
O Estado hebreu, tal como a União Europeia (UE), considera há anos a FPLP (grupo armado de linha marxista) uma organização terrorista, tendo detido nos últimos anos numerosas personalidades ligadas ao movimento, que tem um braço político.
Nesse sentido, o Ministério da Defesa israelita anunciou ter colocado na lista negra organizações de defesa dos direitos humanos Al-Haq e Addammer, por ligações à FPLP, bem como a União de Comités de Mulheres Palestinianas, o Centro de Investigação e Desenvolvimento Bisan, a União de Comités de Trabalho Agrícola e a Defesa Internacional da Infância -- Palestina.
"Estas organizações fazem parte de uma rede que, sob a cobertura de atividades internacionais, dependem da FPLP para apoiar os seus objetivos e promover as suas atividades", refere um comunicado do gabinete do ministro da Defesa, Benny Gantz, salientando que "a direção da FPLP apela à destruição de Israel através de atos terroristas".
Segundo Gantz, "estas organizações beneficiam de ajudas de Estados europeus e de organizações internacionais obtidas de modo fraudulento".
O dinheiro "permite à FPLP financiar as famílias dos terroristas e dos autores de atentados, pagar salários aos seus membros, reforçar as suas atividades terroristas e difundir a sua ideologia", adianta, apelando à comunidade internacional para "cortar todos os contactos com associações e organização que apoiam o terrorismo".
A decisão proíbe as atividades das seis organizações, autoriza as autoridades israelitas a fechar os respetivos escritórios, confiscar bens e prender os seus membros. Proíbe ainda o financiamento ou mesmo manifestações públicas em apoio às suas atividades.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana classificou a decisão de "escandalosa", considerando que representa a última medida "de uma campanha sistemática e implacável contra as organizações da sociedade civil palestiniana e os principais defensores dos direitos humanos".
Num comunicado conjunto, a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch denunciaram uma decisão "excessiva", "injusta" e "preocupante" que "ameaça" o trabalho de algumas das mais "importantes" ONG palestinianas.