Rússia considera retirar talibãs da lista de organizações terroristas
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse hoje que a Rússia está a considerar em retirar os talibãs da lista de organizações terroristas, embora esclarecendo que deve ser a Organização das Nações Unidas (ONU) a dar o primeiro passo.
Durante o seu discurso na reunião anual do clube de debates Valdai, em Sochi, Putin enfatizou que Moscovo "está a dirigir-se nessa direção".
"Todos esperamos que essas pessoas, os talibãs, que agora -- sem dúvida -- controlam a situação no Afeganistão, façam com que a situação evolua positivamente", adiantou.
No caso de os talibãs cumprirem as promessas -- governo inclusivo, respeito pelos direitos humanos, luta contra o terrorismo e o tráfico de drogas --, Moscovo "vai tomar a decisão sobre sua retirada da lista de organizações terroristas".
No entanto, Vladimir Putin especificou que "essas decisões são tomadas na ONU".
Em 2003, a Rússia baniu os talibãs, embora tenha recebido representantes do movimento radical islâmico várias vezes antes de assumir o poder em Cabul em agosto passado.
Putin destacou que a Rússia colabora com os talibãs e lembrou que os convidou a comparecerem, na quarta-feira, em Moscovo, numa conferência internacional, pedindo à ONU que convocasse uma reunião para ajudar o Afeganistão.
"Para que a normalização prossiga no ritmo certo, é claro, é preciso ajudar o Afeganistão a restabelecer a sua economia", atentou.
O chefe de Estado russo ressalvou que o Kremlin sabe que os talibãs estão a tentar "livrar-se" de elementos radicais em território afegão, "incluindo o Estado Islâmico [grupo 'jihadista']".
Todavia, Putin também estimulou os talibãs a estabelecerem relações com todos os grupos étnicos, políticos, sociais e religiosos do país da Ásia Central e recordou as importantes minorias tajiques e uzbeques.
"Gostaríamos que fossem concertados compromissos aceitáveis e que as questões não fossem resolvidas apenas com a ajuda das armas, como nos últimos tempos, e que os interesses das mulheres fossem respeitados", realçou.
Por sua vez, Putin considerou "correta" a decisão do Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, de retirar as suas tropas do Afeganistão.
"É claro que, de uma forma ou de outra, isso vai afetar a confiança nos EUA, principalmente dos países que os veem como aliados. Mas acho que o tempo vai passar e tudo voltará ao seu lugar", sustentou.
Vladimir Putin disse ainda que certamente Joe Biden desconhecia os detalhes da retirada, mas estava ciente das repercussões políticas dessa decisão em Washington.
"Não obstante, tomou essa decisão, assumiu a responsabilidade", acrescentou.
O reconhecimento dos talibãs, que advertiu que o isolamento do Afeganistão é contraproducente, foi abordado na conferência internacional em Moscovo, na qual os participantes pediram ao movimento radical islâmico que cumprisse a maior parte dos compromissos assumidos com a comunidade internacional".
O governo provisório dos talibãs não inclui mulheres e é composto principalmente por religiosos do grupo étnico pastó, a maioria entre os fundamentalistas.