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Réu na morte do futebolista Emiliano Sala diz viver "atormentado" com o acidente

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Foto Stephane Mahe/Reuters

O homem que está a ser julgado por negligência na organização do voo fatal do futebolista Emiliano Sala em janeiro de 2019 garantiu hoje em tribunal viver "atormentado" pela tragédia.

David Henderson reconheceu estar "muito ansioso" e não ter passado "um dia ou hora" em que não pense no acidente mortal, que vitimou o argentino, sobre o Canal da Mancha, no regresso de Nantes para Cardiff, para onde tinha sido transferido a troco de 17 milhões de euros.

O réu garante ter ficado "gravemente marcado" pelo acidente, sempre presente no seu quotidiano.

Segundo a acusação, David Henderson, de 67 anos, e que também é piloto, foi imprudente e agiu com negligência na organização dos voos "quando a aeronave não estava autorizada a fazê-lo e quando utilizou um piloto não qualificado ou competente" para o substituir.

O Piper PA-46 Malibu, privado, acabou pilotado por David Obbotson, de 59 anos, cujo corpo nunca apareceu.

Ao quarto dia do julgamento, Henderson explicou que estava de férias em Paris quando foi contactado pelo agente William McKay para tratar do transporte do jogador sul-americano.

Em 19 de janeiro, Sala viajou para Nantes para se despedir dos seus colegas e tratar de assuntos pessoais e dois dias depois, quando se deu o acidente, regressava para se instalar definitivamente em Cardiff.

David Henderson contou que, face à sua impossibilidade de realizar o voo, contactou Ibbotson, "que imediatamente disse que sim".

"A minha intenção era deixar [Ibbotson] gerir a situação. Ele responsabilizou-se por tudo relacionado com o voo", contou o intermediário e operador, justificando a escolha com o facto de se tratar de um "piloto experiente".

Apesar deste rótulo, a acusação já tinha dito que "Ibbotson não tinha uma licença de piloto comercial, a sua licença para este tipo de avião tinha expirado em novembro de 2018 e ele não estava capacitado para voar à noite".

A proprietária do avião disse ao tribunal, na quarta-feira, que recomendou a Henderson não recorrer a Ibbotson para o serviço.

O réu recordou que ficou "muito, muito preocupado e muito chateado" quando foi informado da perda de contacto com a aeronave.

No seu relatório final publicado em março de 2020, o British Aviation Accident Investigation Bureau (AAIB) estimou que o piloto perdeu o controlo do avião, que partiu durante o voo numa manobra realizada em velocidade muito alta, "provavelmente" para evitar o mau tempo e poder voar à vista, a baixa altitude.

O corpo do antigo futebolista de 28 anos foi encontrado na carcaça do aparelho mais de duas semanas após o acidente, a 67 metros de profundidade, já depois das buscas oficiais terem terminado; seria a família a prosseguir com esse trabalho, que seria bem-sucedido.

O desastre comoveu o mundo do futebol e terá contribuído para o enfarte que vitimou o pai do atleta, somente três meses mais tarde.

O julgamento, que começou na segunda-feira, deve durar duas semanas.