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Militares franceses combatem desinformação e ciberataques com nova "doutrina"

Foto DR
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As Forças Armadas francesas vão combater a disseminação de informações falsas e ataques informáticos, com uma nova "doutrina militar", adiantou hoje a ministra da Defesa de França, referindo que a vigilância digital apenas será feita em operações externas.

"O campo da informação é um lugar de competição estratégica", e "a informação falsa, manipulada ou subvertida é uma arma", declarou Florence Parly.

A tecnologia digital aumentou a velocidade e a viralidade da desinformação e manipulação enraizada para recrutar, desmoralizar as tropas inimigas ou suspender as operações. A utilização dessas estratégias híbridas, abaixo do limiar do conflito aberto, é agora comum em todas as batalhas.

De acordo com a doutrina francesa, os ramos das Forças Armadas devem operar através de uma "vigilância especial digital em torno das operações militares" para detetar ataques de informação adversa, bem como medir o estado da opinião pública, e "combater a propaganda 'jihadista' ou ataques que procuram para deslegitimar as ações" do país.

Em França, as tarefas de vigilância digital são delegadas a unidades militares especializadas do Centro Conjunto de Ações Ambientais (CIAE), sob o controlo do Comando de Defesa Cibernética (COMCYBER).

Os militares franceses também não se abstêm de recorrer ao "engano", nomeadamente para enganar o adversário.

No entanto, "implementaremos essas operações ao mesmo tempo que nos certificamos de que estão em perfeita conformidade com os nossos princípios e valores", indicou Florence Parly.

"Não manipulamos informações. Há, e haverá sempre, uma forma de assimetria entre o que fazemos e o que os nossos adversários fazem. A Rússia usa os média. Não faremos desse modo", acrescentou.

Por outro lado, Florence Parly especificou que as ações de influência digital dos militares limitar-se-ão apenas aos teatros de operações externos, não sendo exercidas em território nacional.

A interferência digital externa em França está sob a jurisdição da agência Viginum, numa altura em que as tentativas de manipulação de opinião, durante as campanhas eleitorais no Ocidente, se têm multiplicado nas redes sociais.

A França já atua no ciberespaço, com mais ou menos discrição.

Em dezembro de 2020, o Facebook excluiu publicamente três redes de 'trolls' administradas na Rússia e na França, incluindo uma com ligações com o exército francês, todos acusados de realizar operações de interferência na República Centro-Africana.

Também no mesmo ano, os confrontos entre a Arménia e Azerbaijão, na região de Nagorno-Karabakh, "foram acompanhado de propaganda, desinformação e operações de pirataria 'online'", referiu o Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri) num relatório.

No Sahel, onde mais de cinco mil militares franceses estão destacados, "vimos recentemente um aumento de ataques à informação para deslegitimar a ação francesa, minimizar os nossos sucessos ou mesmo divulgar informações falsas", argumentou o Ministério da Defesa.

Um "alto executivo" da operação militar francesa Barkhane detido em Bamaco com posse de heroína, uma fotografia de soldados russos "chegados" à capital maliana e soldados franceses sentados sobre uma pilha de barras de outro, são alguns exemplos de informações falsas, em que os especialistas observam mão russo, enquanto o Mali está a considerar os serviços paramilitares do Grupo Wagner.

Para o chefe do Estado Maior do Exército francês, general Thierry Burkhard, é imperativo que os militares invistam no campo tecnológico para "vencer a guerra antes da guerra", num momento em que China, Rússia ou Turquia implementam ações de influência mais ou menos reivindicadas.