PR promulga diploma sobre preços dos combustíveis mas aponta questões por resolver
O Presidente da República anunciou hoje a promulgação do diploma que permite ao Governo limitar os preços dos combustíveis, considerando que, "apesar das suas evidentes limitações," representa "um pequeno passo para mitigar uma situação de emergência económica e social".
Numa nota colocada no portal da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa escreve que a lei em apreço "adota medidas paliativas, indispensáveis e urgentes", mas aponta três questões que não são enfrentadas no diploma.
Em primeiro lugar, o chefe de Estado considera que as medidas "não reequacionam globalmente os impostos sobre os combustíveis, que há muito existem e são elevados, correspondendo a escolhas políticas, quanto à substituição de energias fosseis pelas novas energias limpas, e, também, quanto à facilidade e eficácia do recurso a esses impostos indiretos no quadro da política fiscal e da despesa pública a cobrir".
Por outro lado, Marcelo defende que estas medidas "são de curta duração, por natureza, sendo insuficientes para enfrentar aumentos sucessivos e prolongados, por efeitos desta fase da pandemia, que não terminou, por desajustamento entre procura e oferta, por travagem no investimento nas energias renováveis, pela contingência no fornecimento de gás, pela necessidade de posições comuns dentro da União Europeia e com as principais potências energéticas do mundo".
"Finalmente, não podem iludir uma situação que se vive à escala do globo, na realização das metas de substituição de energias e transição energética e um período de tempo mais longo e mais custoso nesta fase de utilização das novas energias", escreve.
O Presidente sublinha, contudo, que "apesar das suas evidentes limitações, estas medidas são um pequeno passo para mitigar uma situação de emergência económica e social, que mais do que justifica a intervenção do Estado no mercado", justificando, assim, a promulgação.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, as medidas são "paliativas, porque visando atenuar sacrifícios e suavizar, parcialmente, os custos sociais do presente preço dos combustíveis", mas também "indispensáveis, porque esses custos atingem, de forma muito agravada, as famílias e as empresas" e ainda "urgentes, atendendo aos efeitos económicos e sociais imediatos desses sacrifícios".
Em 08 de outubro, a Assembleia da República aprovou o texto final da proposta de lei do Governo que permite a fixação de margens máximas de comercialização para os combustíveis simples e GPL engarrafado.
O texto final apresentado pela Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território, relativo à proposta de lei n.º 109/XIV/2.ª (GOV), foi aprovado em plenário com votos contra do CDS-PP, Chega e Iniciativa Liberal e a abstenção do PSD, tendo-se os restantes partidos pronunciado favoravelmente.
A legislação agora aprovada "altera o regime jurídico vigente no sentido de habilitar o Governo a intervir com a fixação de margens máximas em todas as componentes das cadeias de valor de gasolina e gasóleo simples e de GPL engarrafado".
Conforme explicou o ministro do Ambiente em julho, após a aprovação da proposta de lei do Governo em Conselho de Ministros, o objetivo é permitir ao executivo limitar as margens na comercialização de combustíveis por portaria, caso considere que estão demasiado altas "sem justificação".
O Governo vai apresentar até ao final da semana um conjunto de medidas para enfrentar a crise dos combustíveis, anunciou hoje o primeiro-ministro, acrescentando que o executivo está a trabalhar com a Antram e a Antrop.
António Costa afirmou que há a consciência "de que esta crise é uma crise transitória, mas que vai durar ao longo dos próximos meses e é nesse sentido" e por isso o executivo está a trabalhar com a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) e com a Associação Nacional de Transportes de Passageiros (Antrop) para encontrar soluções.
Estas soluções "têm de ser de natureza transitória", sustentou, para não comprometer "aquilo que é o objetivo fundamental de enfrentar" as alterações climáticas.
O primeiro-ministro referiu que uma das medidas já está a vigorar, referindo-se à devolução da receita extraordinária arrecadada em IVA através do aumento do preço dos combustíveis.
"Essa devolução já se faz, vamos todas as semanas avaliar e faremos sempre que tiver lugar uma receita extraordinária a devolução dessa receita aos portugueses", acrescentou o chefe do Governo, referindo-se à devolução semanal, em sede de ISP, do aumento extraordinário da receita do IVA.
Na terça-feira, a Antram disse estar "mais expectante", depois de ter apresentado ao Governo um conjunto de propostas e medidas que poderão suavizar o impacto do aumento dos combustíveis nas empresas.
De acordo com André Matias de Almeida, porta-voz da Antram, o Governo agendará uma nova reunião "na próxima semana ou seguinte", depois de analisar as propostas apresentadas pela Antram.