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Relatório de ONG diz que forças repressivas da Venezuela estão à caça de jornalistas

Em Julho de 2017, o repórter Euclides Sotillo foi detido pelas forças secretas durante o protesto rpopular contra Nicolás Maduro.   Foto Shutterstock/Edgloris Marys
Em Julho de 2017, o repórter Euclides Sotillo foi detido pelas forças secretas durante o protesto rpopular contra Nicolás Maduro.   Foto Shutterstock/Edgloris Marys

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) denunciou que "as forças repressivas da Venezuela estão à caça de jornalistas", principalmente dos que cobrem protestos, escrevem sobre a situação da covid-19 ou sobre a crise nos serviços públicos.

"As forças repressivas que o regime dirige estão na caça aos jornalistas que cobrem as notícias, especialmente as que têm a ver com protestos, com a covid-19 e os serviços. Eles [jornalistas] são agredidos fisicamente e despojados de câmaras e telemóveis", de acordo com um relatório, apresentado na terça-feira, na 77.ª assembleia-geral da SIP, que decorre de modo virtual até sábado.

"Na Venezuela operam muitos meios de comunicação on-line, independentes, a maioria deles geridos a partir do estrangeiro e frequentemente bloqueados por instruções do Poder Executivo às companhias telefónicas", de acordo com o documento da organização não governamental de defesa da liberdade de expressão e de imprensa.

O relatório salientou que "estes meios de comunicação e os poucos que permanecem no país têm muita dificuldade em realizar o seu trabalho devido à perseguição permanente aos jornalistas".

A SIP indicou que "durante o regime de [Nicolás] Maduro, 115 meios de comunicação social desapareceram entre 2013 e 2018, de acordo com um relatório do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa (SNTP)" da Venezuela, entre eles o jornal Panorama, de Maracaibo "que foi despojado do seu website" e que "não pode fazer a impressão devido às imposições do regime para o fornecimento de papel".

"Mais de 60% da população tem conhecimento de alguma notícia através de um canal oficial. Não há meios de comunicação social independentes, nem televisão, nem rádio. Os que existem são oficiais (estatais) ou estão autocensurados. Os jornais e as revistas não podem imprimir livremente devido à falta de acesso ao papel. A Internet está sujeita a bloqueios discricionários ou acesso muito limitado, o que levou o país do primeiro para o último lugar em termos de ligação à Internet na América Latina", referiu o relatório.

A SIP advertiu que "a situação dos media é catastrófica, quase cumprindo-se a promessa do Plano da Pátria [programa do Governo] de uma hegemonia comunicacional, semelhante ao modelo cubano".

De acordo com o relatório, os ataques contra a liberdade de expressão intensificaram-se, numa altura em que "por enquanto não há maneira de sair do regime governante a curto prazo".

"A oposição continua dividia entre os que acreditam que a 'tirania' de Nicolás Maduro pode resolver-se através do confronto e os que sustentam que a saída é pressionar para eleições livres e participar em todas as que surgirem, mesmo que sejam processos fraudulentas", referiu.

Entre os exemplos de perseguição à imprensa, a SIC destacou a tomada das instalações do diário El Nacional, pelas forças armadas.

"Com base num julgamento por difamação (...) o Supremo Tribunal de Justiça condenou o jornal a pagar 13 milhões de dólares [cerca de 11 milhões de euros] por dano à honra, por ter reproduzido informações divulgadas por Leamsy Salazar [segurança de Diosdado Cabello, considerado um dos homens fortes do regime] ao diário espanhol ABC e ao norte-americano The Wall Street Journal e reproduzidas por mais de 80 meios de comunicação social e as principais agências internacionais", explicou a SIP.

O relatório destacou também o caso da jornalista Gregória Díaz do portal Crónica Uno perseguida por ter escrito um texto sobre a escassez de camas para doentes de covid-19, e ainda os dos jornalistas Edwin Prieto e Lenin Danieri, que foram despedidos e obrigados a apagar o material gravado num protesto em Villa del Rosário.

Há ainda registos de jornalistas que foram aterrorizados por grupos armados por documentar protestos contra a falta de combustível, ou o desaparecimento temporário de um jornalista após uma rusga à residência.

A confiscação de equipamentos de estações de rádio, a suspensão de programas radiofónicos, o roubo de antenas e de viaturas e a detenção de jornalistas são outras denúncias da SIP.