A Ingratidão dos Lisboetas ou como impedir uma senhora de 80 anos de votar
A derrota de Fernando Medina por um número tangencial de votos deu-me a mesma sensação que tive em 2001, quando João Soares perdeu a Câmara de Lisboa para Santana Lopes: é espantosa a ingratidão dos lisboetas. Em ambos os casos, a capital perdeu um dos seus melhores presidentes da câmara de sempre porque as sondagens pré-anunciaram a sua vitória e isso fez com que muitos não se dessem ao trabalho de ir votar.
Tão inesperada reviravolta deixou-me um amargo de boca, especialmente depois do episódio inqualificável que me sucedeu na 22ª secção da escola Marquesa de Alorna e que passo a narrar.
Por ter falta de equilíbrio e de visão devido ao Parkinson, a minha mãe precisa de ajuda para ir votar. Incautamente, não nos ocorreu que fosse exigido um comprovativo médico. Acontece que fomos confrontado por uma tia ríspida das Avenidas Novas, que me impediu agrestemente de dar o braço à minha mãe, de falar com ela ou de lhe dar qualquer tipo de ajuda no momento de votar. Resultado: depois de longos minutos de agonia, a minha mãe veio dizer que só tinha posto a cruz num dos boletins e que não era capaz de pôr nos outros. A reação da presidente da secção de voto foi imediata: “Minha querida, não tem problema: pode dobrá-los.” E assim, num estrito cumprimento das leis eleitorais, se impediu de exercer o seu direito de voto uma senhora de 80 anos (por acaso filha do General Humberto Delgado, o que nem vem ao caso).
Creio que esta prossecução fanática das regras não estará no espírito da Comissão Nacional de Eleições e exigiria no mínima uma maior divulgação das mesmas. Mas aqui fica o aviso: se alguém tem dificuldades motoras ou de visão e necessita de ajuda para votar, obtenha um comprovativo médico. Porque nunca sabe que tipo de presidente de secção vai encontrar.
Alexandre Delgado Chaves Rosa