Reflexões por fazer
Para a história do sufrágio autárquico do passado domingo destacam-se vencedores, vencidos, fretistas e videntes, bem como os que devem algumas explicações públicas, que importa dar, a seu tempo, nos locais próprios. Tal como a justiça demorada, não temos pressa, nem ansiedade, até porque para desgosto dos que ambicionavam purgas imediatas e até lugares sonhados, aqui continuamos, com o mesmo propósito de sempre: informar.
Nesta nossa missão limitamo-nos a relatar factos com rigor e a interpretar a actualidade com honestidade. E nesse âmbito, por exemplo, não podemos tolerar que os cadernos eleitorais continuem por limpar, fazendo com que os números absurdos, em nome de transferências financeiras mais generosas, sirvam para questionar legitimidades.
Não contem connosco para branquear este e outros expedientes narcisistas. Somos assim, porventura cruéis, tal como a realidade vivida em cada dia, mesmo que alguns, distantes do que é realmente decisivo, entendam que perseguimos protagonistas do poder quando lhes fazemos perguntas e escrutinamos opções e que somos cúmplices da oposição, apenas porque com a mesma trocamos cumprimentos de circunstância e praticamos princípios inegociáveis, como a igualdade de oportunidades e o pluralismo opinativo. Mais uma vez, não fomos a votos, nem perdemos tempo a martelar sondagens, a fomentar a esquizofrenia e a responder a mensagens ordinárias. Vivemos com gosto e por isso venha daí o próximo combate. Mas antes é elementar chamar ao palco da semana os que mais se destacaram na ressaca eleitoral, por si só geradora de fenómenos políticos de vária ordem. Os eleitos são:
. Social-democratas. Quando jardinistas e miguelistas se juntam, as vitórias são mais robustas e até a dissidência dissimulada, ditada por alegados amuos familiares, não tem expressão. Pedro Calado uniu os mesmos que, à vez, liquidaram as aspirações do PSD no Funchal em 2013 e 2017 e, porque ganhou com sete pontos de vantagem, tem tudo para ser o que quiser.
. Socialistas. Voltaram ao que sempre foram, autofágicos e avessos a um poder duradouro. Mais do que dar ‘murros na mesa’ deviam reflectir de forma séria sobre o que correu mal e assim melhor preparar um novo ciclo se é que querem ser alternativa em 2023. Fingir que muda alguma coisa para ficar tudo igual renderá excentricidades como a que leva a que a oposição a Calado seja feita só por independentes.
. Centristas. Cantaram vitória mesmo tendo perdido influência e poder, vereadores e juntas. Ninguém explicou a Rui Barreto que com um PS em cacos o PSD tenderá a dispensar a bengala?
. Oportunistas. A imensidão de vitoriosos fez-se notar. É o costume sempre que há eleições, com muitos a querer mostrar serviço à custa da decisão soberana dos eleitores. Um bom mandato começa pela limpeza dos hipócritas.
. Analistas. As sondagens desempenharam o seu papel e a mais não são obrigadas, mesmo que sejam endeusadas por uns e classificadas de “vigarice” por outros. Nuns casos, as tendências prévias aproximaram-se do voto expresso nas urnas. Noutros foram decisivas para a mobilização de eleitores escaldados com o ‘já está ganho’. Mesmo que o retrato do momento padeça de desfocagem, uma coisa é certa: os estudos de opinião encomendados pelo DIÁRIO à Eurosondagem foram todos publicados de acordo com o que está depositado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social.