Perder eleições sem se candidatar
O que Paulo Cafôfo só agora percebeu é que o PS continua igual ao que sempre antes foi e ninguém o consegue mudar
A ressaca das eleições autárquicas começa a abrandar com as respectivas posses dos novos titulares das câmaras.
O que é um facto é ter havido consequências políticas a determinados níveis das hierarquias partidárias. Desta vez não “ganharam” todos. Houve quem aceitasse a derrota e assumisse, com responsabilidade inédita, a repercussão do prejuízo. Tem o meu crédito e reconhecimento. Que assim passe a ser de hora avante. Um novo entendimento futuro sobre o que é ganhar e perder eleições e respectivas ilações.
Paulo Cafôfo não se candidatou. Mas perdeu, como ele muito bem reconheceu. E saiu derrotado por uma liderança sem sucesso, que trouxe o Partido Socialista para a sua base natural.
O ainda líder do PS tem de perceber que foi eleito presidente da Câmara do Funchal como resultado de os madeirenses, em particular os funchalenses, estarem fartos de um regime com quarenta anos de hegemonia absoluta e, em muitos sentidos, abusadora. Quiseram repudiar o sistema então vigente e não foram de modas: votaram no candidato que castigasse eleitoralmente o regime no poder. Com isso perdeu Bruno Pereira e ganhou Paulo Cafôfo. Não foram os militantes social democratas que massacraram Bruno Pereira nem os aficionados socialistas que elegeram Paulo Cafôfo. Nada disso. Esses votaram nas suas cores de paixão. Foram os restantes eleitores, os que votam no que parece benéfico para a actualidade, que ao quererem rejeitar e afastar os exageros laranja deram a vitória a Paulo Cafôfo. O mártir de serviço foi Bruno Pereira.
O que Paulo Cafôfo devia ter percebido, e não percebeu de todo, é que o PS continuava o mesmo de sempre. A sua vitória não tinha sido uma conquista do PS mas sim a rejeição do que havia. Até com a ajuda de Cafôfo ser uma pessoa bem disposta e agradável de conversar.
Mudado o regime, confirmada e aceite com agrado uma nova liderança do PSD, temos novamente o povo a apostar nesta governação sensata e bem sucedida de Miguel Albuquerque. O PS continua a não ser solução bem vista e Paulo Cafôfo ficou a liderar um partido sem bases motivadas, sem quadros credíveis e, apenas, com alguns sucessos locais por ineficiência política social democrata em cada um desses redutos. O PS de sempre.
Acho estranho que Paulo Cafôfo tenha acreditado num PS de “sonho”. Uma miragem que alguém lhe deve ter vendido na embalagem do sucesso municipal. Ao trocar a Câmara pelo partido saiu do castelo conquistado para chefiar grupo de bandoleiros onde “aqui tudo manda”. Foi asneira severamente penalizada. A política partidária não é vida para Paulo Cafôfo. O seu perfil sério, sensato e cauteloso não se coadugna com a safadeza do covil partidário onde se meteu. Paulo Cafôfo é do melhor que o PS já teve e dificilmente os “rosas” encontrarão igual.
Esta nova onda laranja tem muito a ver com a personalidade de Pedro Calado. Faz amanhã precisamente um ano que escrevi nesta página ser Calado a candidatura vitoriosa para Albuquerque. Antes disso, não era público qualquer registo nesse sentido. Toma posse hoje. Acertei em cheio e essa opção popular prima por perfeita.
Há que iniciar um novo ciclo para a Cidade. Com mais inteligência que “hardware”. O Funchal não está mal mas requer uma nova vivência colectiva. Vamos a isso Pedro!
Miguel Silva Gouveia foi candidato, à presidência municipal, pela primeira vez. Não sei se é o inventor daquela coligação estapafúrdia mas, sem dúvida, foi a sua vítima.
Entre outros, houve um erro fatal: o normal seria ter parado as obras no início do ano para que se pudesse apreciar uma nova Cidade à sua maneira. O resultado da sua gestão. Ao invés, iniciou obras por todo o lado tornando incómodo o trânsito e barulhento para as pessoas. Vou falar por mim: para quem vive na estrada Monumental foram, e estão a ser, largos meses infernais. Da ponte do Ribeiro Seco à Ilma é um forrobodó de inconvenientes para residentes, comerciantes, turistas e passeantes de outras freguesias. São obras e obrinhas da Câmara bem como investimentos privados em série, alguns causando enorme desconforto. Como esperar apoio e agrado popular com tanta perturbação pública na Cidade ? E parte dessas obras absolutamente dispensáveis, como a nova ciclovia. Em todo este tempo só lá vi um ciclista circular. Obra a desfazer.
Ainda me lembro do exagero jardinista ao mandar desligar os principais semáforos do Funchal em período eleitoral: evitar toda e qualquer insatisfação.
Outro resultado surpreendente foi o de provar que se pode perder uma eleição autárquica e, oito anos depois, ensaiar uma candidatura vitoriosa. É o caso de Nuno Batista em Porto Santo. Aposta de Roberto Silva que valeu o regresso da maioria absoluta. Quem aprovou a candidatura socialista assumiu dar a saber à população que a função de deputado pelo Porto Santo é dispensável. A eleição de Miguel Brito retirava da Assembleia Legislativa o deputado portosantense. Para mim, o Porto Santo devia ser um círculo eleitoral separado da Madeira pois garantia dois deputados independentemente da necessária boa vontade dos partidos com sede na Funchal. A estratégia socialista acaba por dar argumentos aos detratores dessa mais valia política para a Ilha. PS sem quadros locais ? Um futuro sombrio.
Aos “reis e senhores” das demais autarquias madeirenses o meu elogio para o sucesso da arte de merecer o repetido apoio das populações: Coelho, Nascimento, Pessegueiro, Teles, Câmara, Garcês, Fernandes, Franco e Sousa. Parabéns democráticos !
Uma palavra para o arcaico partido comunista. Tem na sua chefia o mais antigo dinossauro político em actividade. Talvez em todo o Portugal. Edgar Silva é a prova de finados do partido da foice e martelo. Um arrastar penoso por já não haver continuidade. Foi candidato a tudo, até a presidente da República. Agora falta apenas se propor a presidente de junta de freguesia. Final cruel.
Transportes públicos
Há uma queda brutal na utilização dos transportes públicos urbanos. Menos um terço de passageiros em vinte anos. Fiz a Horários do Funchal em 1987, modernizando o seu serviço da noite para o dia. Eram historicamente privados e “nacionalizei” as concessões. A nova qualidade dos autocarros e a melhoria do serviço chamaram muitos novos utentes. Sem o posterior indispensável investimento veio o declínio.
Neste virar de página autárquico, e na circunstância de governo e câmara politicamente solidários, sugiro que se considere a Câmara do Funchal ser proprietária da Horários do Funchal. Como em Lisboa, Porto, Las Palmas e todas as cidades europeias. Haverá que fazer um acordo financeiro o que não será um problema. Não é a primeira vez que refiro esta opção.
A Horários do Funchal é um instrumento de gestão fundamental para a Cidade, nomeadamente no urbanismo. Os transportes públicos não são o mero transporte de pessoas a troco de um bilhete. Pode ser importante na escolha de residência, do local de trabalho, da escola, das áreas de lazer, etc. Só a Câmara pode ter uma visão global dos transportes na vida das pessoas e no futuro da Cidade.
Anteontem, o novo presidente da câmara de Lisboa, no seu discurso de posse, anunciou transportes públicos gratuitos para jovens e idosos.
Socialismo sem rumo. Deputadas sem mundo
Duas deputadas socialistas na Assembleia Legislativa afirmaram que, em sua opinião, é absurdo muitos produtos “made in Madeira” quase nada incorporarem de matérias primas regionais. Mais ou menos isto. Não quero ofender as senhoras mas não deixo passar tamanha ingenuidade. Aliás, já convidei uma das ditas deputadas e o grupo parlamentar do PS para uma jornada de trabalho sobre o sector industrial madeirense. Aceitaram para uma data próxima mas, até hoje … nada. O convite mantém-se.
Mas não, parece mais conveniente continuar a falar sem saber. Dá para tudo.
No entender da deputada do PS as regiões sem matérias primas não devem produzir. Ficam a olhar para o ar. Ou seja, Singapura (mesmo tamanho que a Madeira tem 55.000$ per capita de rendimento), Dubai (sem petróleo; só areia; em 1990 tinha um único hotel), Hong-Kong (8.000 edifícios com mais de 14 andares), Macau (área igual a Porto Santo), Canárias, etc. deviam continuar pobres porque não têm matérias primas para transformar. Nada de indústria transformadora. Só serviços. O emprego que se lixe. Não ter mundo é fatal.
A Zona Franca da Madeira, na sua área industrial do Caniçal, tem exactamente esse propósito: importar matérias primas, empregar madeirenses para as transformar e vender os respectivos produtos na Região ou por exportação. Outras empresas por toda a Madeira fazem o mesmo. E muito bem. Numa ilha sem matérias primas, investem dinheiro e criam postos de trabalho. O emprego é o mais importante. EMPREGO, senhoras deputadas.
O PS nem envergonhado fica com estas “ideias”. Ninguém corrige semelhante “tiro no pé”. Há sempre quem “acredite” nem que seja na maior tontice que se pode imaginar. Por estas e outras não tem credibilidade. Nem se perspectiva.
Jornal para vinganças pessoais
O jornal vendido pelo governo a um grupo empresarial está a revelar-se um instrumento de viciada influência pública, vingança pessoal generalizada e ajustes de contas fora de tempo. Liderado por gente sem escrúpulos, destituída de profissionalismo que apenas serve o seu dono e os seus interesses.
Quando der … vai levar, porque sei bem mais do que imaginam. Se fosse os próprios virava-me para outros ódios.