Mundo

Governo e oposição da Venezuela podem retomar diálogo mediado pela Noruega

Foto Mario Caicedo/EPA
Foto Mario Caicedo/EPA

A Noruega anunciou hoje que trabalha para que o Governo venezuelano e a oposição retomem as negociações suspensas desde sábado, após a extradição do empresário colombiano Alex Saab, considerado testa-de-ferro do Presidente Nicolás Maduro, para os Estados Unidos.

 "A Noruega continua convencida de que as negociações são a única solução para a Venezuela. Continuaremos a trabalhar para que as partes continuem, logo que possível, o seu importante esforço na mesa de negociação para uma solução política e inclusiva, pelo bem do povo venezuelano", anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros norueguês na sua conta do Twitter.

O anúncio teve lugar após a opositora Plataforma Unitária da Venezuela instar o Governo do Presidente Nicolás Maduro a retomar as negociações, porque "nenhuma pessoa é mais importante que todo o povo venezuelano".

"Viemos para cumprir com o povo venezuelano. Para trabalhar no processo de negociação que iniciámos a 08 de agosto último na Cidade do México. Infelizmente, a delegação de (Nicolás) Maduro não chegou, produzindo um novo atraso", explica o comunicado, lido pelo advogado Gerardo Blyde.

Segundo a oposição "a profunda crise humanitária" que afeta os venezuelanos residentes e emigrados, "assim como a inexistência de instituições democráticas em conformidade com a Constituição, não podem esperar".

"Queremos abordar todas as questões da agenda em profundidade, porque só assim chegaremos a acordos que produzam soluções para o país. Desde o início que advertimos que este processo é complexo e que requer um alto nível de empenho das partes para conseguir avanços. Apelamos à contraparte a retomar as sessões o mais rapidamente possível, a fim de se chegar aos acordos necessários", explica a oposição.

O Governo venezuelano suspendeu as negociações com a oposição que decorriam no México com a mediação da Noruega, em protesto pela extradição, sábado, do empresário colombiano Alex Saab, considerado testa-de-ferro do Presidente Nicolás Maduro.

"Em virtude desta ação extremamente grave, a nossa delegação anuncia que suspende a sua participação na mesa de negociações e diálogo. Consequentemente, não estaremos presentes na ronda que deveria começar amanhã [hoje] no México, como expressão profunda do nosso protesto perante a agressão contra a pessoa de Alex Saab", anunciou o presidente do parlamento, Jorge Rodríguez.

Segundo Rodríguez "esta ação ilegal e desumana constitui um novo ato de agressão dos EUA contra a Venezuela, dado que Alex Saab foi incorporado como membro de pleno direito no processo de diálogo e negociação".

"A Venezuela alerta o mundo que a vida de Alex Saab está em perigo nas mãos de um sistema judicial instrumentalizado para atacar a Venezuela", afirmou Jorge Rodríguez.

O empresário Alex Saab, deixou sábado a ilha do Sal, Cabo Verde, em cumprimento do pedido de extradição das autoridades norte-americanas, confirmou à Lusa fonte da defesa.

Um avião ao serviço do Departamento de Justiça norte-americano partiu durante a tarde da ilha do Sal, onde Alex Saab estava detido desde junho de 2020, com destino aos EUA, de acordo com fontes da aviação civil.

Alex Saab, 49 anos, foi detido pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas em 12 de junho de 2020, durante uma escala técnica no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos EUA, numa viagem para o Irão em representação da Venezuela, com passaporte diplomático, enquanto 'enviado especial' do Governo venezuelano.

A sua detenção colocou Cabo Verde no centro de uma disputa entre o regime do Presidente Nicolás Maduro, na Venezuela, que alega as suas funções diplomáticas aquando da detenção, e a Presidência norte-americana, bem como irregularidades no mandado de captura internacional e no processo de detenção.

Washington pediu a sua extradição, acusando-o de branquear 350 milhões de dólares (295 milhões de euros) para pagar atos de corrupção do Presidente venezuelano, através do sistema financeiro norte-americano.

Em agosto de 2021 o Governo venezuelano e a oposição retomaram as negociações no México, sob a mediação da Noruega e com a intenção de chegar a um acordo sobre "as condições necessárias" para a realização de eleições segundo a Constituição, entendendo que é uma necessidade levantar as sanções internacionais" impostas contra a Venezuela.

Em 14 de setembro, Jorge Rodríguez, em representação do Presidente Nicolás Maduro, anunciou a inclusão do empresário Alex Saab como "membro pleno" da delegação que representa o Governo nas negociações.

Para hoje estava prevista uma nova ronda de negociações.