Oposição quer retomar negociações com Governo após extradição de Alex Saab
A oposição venezuelana disse hoje querer trabalhar para chegar a um acordo para solucionar a crise na Venezuela, apesar de o Governo ter suspendido as negociações, em protesto pela extradição de Alex Saab, considerado testa-de-ferro de Maduro.
"O nosso compromisso com a justiça e com o avanço de um acordo que proporcione soluções urgentes para os venezuelanos permanece intacto e não descansaremos enquanto não o conseguirmos. Cada minuto que se adia conta-se em vidas. Os venezuelanos são, e devem ser, a única prioridade", escreveu o líder opositor Juan Guaidó na sua conta do Twitter.
Na mesma rede social, Juan Guaidó afirmou que "as soluções de que a Venezuela necessita são urgentes" e que "nenhum interesse deve antepor-se à emergência".
"Reafirmo o meu compromisso de continuar a insistir na necessidade de alcançar um acordo abrangente que resolva a crise, que nos permita alcançar justiça e recuperar-nos como país", escreveu o político.
Noutra mensagem, Juan Guaidó acusou o regime de utilizar "um sistema de justiça sequestrado como ferramenta de tortura e perseguição" a vários venezuelanos.
O governo venezuelano suspendeu as negociações com a oposição que decorriam no México com a mediação da Noruega, após a extradição, no sábado, do empresário colombiano Alex Saab, que Caracas diz ser um sequestro.
"Em virtude desta ação extremamente grave, a nossa delegação anuncia que suspende a sua participação na mesa de negociações e diálogo. Consequentemente, não estaremos presentes na ronda que deveria começar amanhã [hoje] no México, como expressão profunda do nosso protesto perante a agressão contra a pessoa de Alex Saab", anunciou o presidente do parlamento, Jorge Rodríguez.
Um avião ao serviço do Departamento de Justiça norte-americano partiu na tarde de sábado da ilha do Sal, onde Alex Saab estava detido desde junho de 2020, com destino aos EUA, de acordo com fontes da aviação civil.
Em comunicado, o Ministério da Justiça de Cabo Verde disse que recebeu "garantias" dos Estados Unidos de que o empresário colombiano terá "um processo justo e equitativo" e que "não será condenado a penas que não existam no ordenamento jurídico cabo-verdiano, designadamente a pena de morte, pena de prisão perpétua, a tortura, tratamento desumano, degradante ou cruel".
O Ministério da Justiça cabo-verdiano afirmou ainda que o processo de extradição, realizado ao abrigo da "cooperação judiciária", seguiu os trâmites legais e "passou pelo crivo das autoridades judiciárias e do Tribunal Constitucional, garantindo ao extraditando um processo justo, com todas as garantias constitucionais e legais".
Nos últimos dias, a defesa de Alex Saab viu o Tribunal Constitucional de Cabo Verde recusar vários pedidos e recursos na sequência da rejeição, em setembro, do recurso principal à decisão do Supremo Tribunal de Justiça, que tinha autorizado a extradição.
Alex Saab, de 49 anos, foi detido pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas em 12 de junho de 2020, durante uma escala técnica no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos EUA, numa viagem para o Irão em representação da Venezuela, com passaporte diplomático, enquanto 'enviado especial' do Governo venezuelano.
A sua detenção colocou Cabo Verde no centro de uma disputa entre o regime do Presidente Nicolás Maduro, na Venezuela, que alega as suas funções diplomáticas aquando da detenção, e a Presidência norte-americana, bem como irregularidades no mandado de captura internacional e no processo de detenção.
Washington pediu a sua extradição, acusando-o de branquear 350 milhões de dólares (295 milhões de euros) para pagar atos de corrupção do Presidente venezuelano, através do sistema financeiro norte-americano.
Em agosto de 2021 o Governo venezuelano e a oposição retomaram as negociações no México, sob a mediação da Noruega e com a intenção de chegar a um acordo sobre "as condições necessárias" para a realização de eleições segundo a Constituição, entendendo que é uma necessidade levantar as sanções internacionais" impostas contra a Venezuela.
Entretanto, foram assinados acordos sobre a defesa da soberania e a libertação de recursos para enfrentar a crise e a pandemia.
Em 14 de setembro, Jorge Rodríguez, em representação do Presidente Nicolás Maduro, anunciou a inclusão do empresário Alex Saab como "membro pleno" da delegação que representa o Governo nas negociações.
Para hoje estava prevista uma nova ronda de negociações.