Facturação das empresas de estudos de mercado cai 11% em 2020 em Portugal
A faturação das empresas de estudos de mercado e opinião em Portugal recuou 11%, para cerca de 78 milhões de euros, em 2020 face a 2019, com a pandemia a inverter a tendência de crescimento que o setor vinha registando.
Segundo avançou à agência Lusa o presidente da Associação Portuguesa das Empresas de Estudos de Mercado e Opinião (Apodemo), com base em dados do estudo 'Esomar - Global Market Research 2021', "a atividade vinha em crescendo e a procura era cada vez maior, mas a pandemia veio provocar um retrocesso na faturação das empresas" do setor.
"Muitos dos estudos realizados eram presenciais, nomeadamente os 'focus group' [método de pesquisa qualitativa que reúne participantes para obter opiniões sobre produtos ou serviços], e as empresas consumidoras deste tipo de oferta passaram por situações complicadas e difíceis, o que fez baixar a procura", explicou Carlos Mocho.
Para 2021, o presidente da Apodemo -- criada em 1993 e que conta com 24 empresas associadas, responsáveis por um volume de negócios na ordem dos 60 milhões de euros -- aponta já um cenário de alguma recuperação, estimando "que o mercado possa ficar 'flat' [estável] ou crescer cerca de 1%", para depois progredir "mais um a dois pontos percentuais" em 2022.
"Acredito que [o decréscimo registado no negócio] tenha muito mais a ver com uma situação pontual, provocada pela pandemia, do que por restrições fortes nos orçamentos" para estudos de mercado e opinião, sustentou, salientando que a "informação de suporte" obtida através destes instrumentos é cada vez "mais importante para a tomada de decisões" pelas empresas.
"Praticamente todos os setores de atividade recorrem a estudos de mercado, desde a área da saúde, à distribuição, política ou combustíveis. O objetivo é sempre o de adquirir informação que permita uma tomada de decisão mais eficaz, equilibrada, rápida e certeira, reduzindo a margem de erro", salientou.
Neste sentido, a Apodemo alterou recentemente os estatutos da associação, de forma a poder albergar não só as empresas do setor, mas também pessoas singulares, designadamente profissionais com atividade significativa no âmbito dos estudos de mercado e de opinião ou em atividades relacionadas, como 'data analytics' e 'marketing intelligence', assim como académicos e 'freelancers'.
De acordo com Carlos Mocho, além de pretender contribuir para o desenvolvimento do setor, esta alteração vem alinhar a Apodemo com as suas congéneres europeias, que já a concretizaram há alguns anos.
"As empresas do setor nossas associadas são 24, mas temos mais entidades -- nomeadamente as universidades que fazem muitos estudos e sondagens -- que, até à data, não são nossos associados, mas com a alteração de estatutos poderão vir a ser", referiu.
No total, disse, são atualmente cerca de 40 as empresas, responsáveis por meio milhar de empregos, que operam em Portugal no setor dos estudos de mercado, incluindo grandes multinacionais estrangeiras, que detêm a maior quota de mercado, mas também empresas portuguesas "que se têm, cada vez mais, consolidado com competências adequadas".
Segundo Carlos Mocho, um dos principais desafios que hoje se coloca às empresas do setor é "continuarem a evoluir e ganharem competências em áreas tecnológicas com as quais podem estar menos familiarizadas e que vão ser extraordinariamente importantes para o futuro dos estudos de mercado".
"Não posso estar a trabalhar de uma determinada forma quando, tecnologicamente, tenho outras formas de o fazer que são mais rápidas e mais eficazes", explicou, destacando a "componente virtual nos estudos de mercado e a adaptação das empresas a essa nova realidade" como um dos grandes desafios e oportunidades.
"Acho que há espaço de progressão no setor e a Apodemo tem aí um papel muito importante. Quer as nossas empresas locais, quer também as internacionais vão ter que se adaptar cada vez mais, tecnologicamente e com competências de estrutura, para, por exemplo, utilizar cada vez mais este novo virtual que a própria pandemia fez despertar ainda mais", sustentou.
Como exemplo, Carlos Mocho refere o caso do 'focus group', "que, se calhar, daqui algum tempo não faz muito sentido que seja presencial, quando pode ser feito através do WhatsApp ou do Messenger".
Paralelamente, o dirigente associativo salienta a necessidade crescente de a Apodemo "ter uma ação participativa e de esclarecimento" acerca da atividade desenvolvida pelo setor, já que são frequentes as situações de "desconfiança" em torno dos estudos de mercado e sondagens, devido a más interpretações de quem os analisa.
Precisamente para debater as tendências no setor, e tendo como tema central a inovação e a tecnologia ao serviço dos estudos de mercado, a Apodemo promove, na quinta-feira, um evento 'online' intitulado "Research 2022 -- Perspetivas sobre o futuro do Market Research".
O presidente da associação destaca tratar-se do primeiro 'webinar' organizado ao abrigo dos novos estatutos e no qual espera contar, por isso, com uma ampla participação dos vários atores no mercado para "falar sobre o futuro e as novas tendências" no setor.