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Os pregos da carreta

Pois, cada um é especialista na sua área. É que havia carretas e carretas

O caso que vou contar é real, mas para não ser penalizado por violação do regime de protecção de dados pessoais (RGPD), não identifico os intervenientes. Mas vamos ao que interessa. Era domingo e a missa tinha acabado. O senhor padre ministrava a catequese na sacristia da Igreja de S. Brás, no Arco da Calheta aos seus paroquianos. Nessa altura a jurisdição abrangia as actuais paróquias do Loreto e de S. Brás. Isto quer dizer que foi anterior a 1961…

O procedimento pedagógico era simples: havia uma explanação e depois, em coro, havia que decorar as respostas para poder progredir na “carreira” de cristão. Eram momentos altos da formação cristão que, envolvendo toda a família do catecúmeno e paroquial, passavam pela: primeira comunhão, comunhão solene e crisma.

Numa dessas sessões, o Sr. Padre dirigiu-se ao José (lembro o RGPD) perguntou-lhe:

- Quantos são os mandamentos da Santa Madre Igreja?

O Manel encolheu-se e não houve maneira de, no fundo da sua memória, desenterrar uma resposta com segurança.

- Não me lembro, Sr. Padre!

O Sr. Padre, munido da autoridade que, neste caso, o bastão que tinha na mão lhe conferia, aplicou o castigo que julgou devido, atingindo-o na cabeça.

Manel, entre uma choramingada e revolta pelo castigo sofrido, respondeu:

- O Sr. Padre também não sabe quantos pregos tem a carreta de meu pai!

Pois, cada um é especialista na sua área. É que havia carretas e carretas. E o serviço dos carreteiros (à época) eram solicitados em função da capacidade/lotação de cada carreta. Hoje os carros têm referências como a cilindrada, a carga, a lotação e outros. Nessa altura, a carreta era tanto maior quanto maior fossem os rodados. Logo a medida era aferida pelo número necessários de pregos na sua construção. Serviam para aumentar a aderência aos caminhos de pedra e de terra batida bem como manter unidos e no seu lugar as partes que compunham o rodado.

Vem isto na sequência do meu anterior artigo de opinião. Acabadas as eleições, os carreteiros actuais recolhem. Uns fazem contas à vida e toca a arranjar as carretas, outros a deitá-las borda fora, porque, afinal, não valeu a pena “passar as passinhas do Algarve” e, outros ainda têm de arranjar algum analgésico para atenuar as dores fisiológicas e, sobretudo, psicológicas.

A população em geral, vai esperar que o tempo passe para ver algumas promessas serem adiadas para daqui a quatro anos, por “culpa dos outros”.

E os mesmos de sempre vão ser chamados a pagar a língua de palmo as bacoradas que muitos fizeram e vão fazer para manter e/ou obter os lugares tão desejados.

Tudo para bem e em nome do povo!

P.S.: Votos que o DN prossiga, com sucesso, na senda da informação e da liberdade de opinião e de expressão por muitos e longos anos.