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Madeira

Quem era Alexandre Mendonça?

Padre madeirense que ontem morreu em Caracas revelou-se atento às carências da comunidade e à situação de insegurança no país

DIÁRIO lembra momentos de uma vida altruísta

O cónego Alexandre Mendonça, 67 anos, que ontem morreu em Caracas, era director da Missão Católica Portuguesa, um devoto de Nossa Senhora de Fátima e destacado mentor da comunidade luso-venezuelana durante mais de 33 anos de sacerdócio .

Alexandre João Mendonça de Canha, nasceu em São Pedro do Funchal, Madeira e emigrou para a Venezuela aos 12 anos de idade, onde se fez sacerdote, concretizando "a coisa mais linda e importante" da sua vida.

"A minha vocação nasceu comigo, desde que abri os olhos ao mundo sempre quis ser sacerdote, mas só aos 26 anos é que entrei para o seminário por causa da difícil situação económica dos meus pais" explicou à Agência Lusa durante a celebração do aniversário da sua ordenação sacerdotal.

As dificuldades sempre foram motivo para o exercício de superação, como confidenciou ao DIÁRIO uma semana antes de ser homenageado na igreja do Piquinho, em Julho de 2018, numa missa de acção de graças durante a qual celebrou os 30 anos de sacerdócio.

“A vida está cada vez mais difícil, mas para um sacerdote é um momento propício para ajudar as pessoas na reafirmação da sua própria fé”. Alexandre Mendonça ao DIÁRIO,  a 9.7. 2018

Nesse dia de festa , Alexandre Mendonça ouviu o presidente do Governo render-lhe um elogio. “Continua hoje a ser um bastião da portugalidade e da fé junto da nossa comunidade”.

Alexandre Mendonça tinha ainda um outro motivo de alegria, inspiração e paz, os presépios. Era detentor de uma coleção de quase 400 exemplares, de diferentes tamanhos e países.

A morte de Alexandre Mendonça foi confirmada à Agência Lusa por fontes próximas do sacerdote, precisando que esteve internado em setembro por motivos relacionados com a covid-19 e que teve uma recaída que o levou novamente a uma clínica de Caracas. Desde a chegada da pandemia da covid-19, em março de 2020 que passava os dias fechado, na parte residencial da Ermida de Nossa Senhora de Coromoto e Fátima, em San Bernardino, cujos acessos foram restringidos por ficar no começo da Avenida Boyacá, uma autoestrada que une, pelo norte, o oeste e o leste de Caracas.

Mesmo assim, aos fins de semana, gravava missas que fazia chegar à comunidade portuguesa através do WhatsApp.

"A pandemia da covid-19 é uma desgraça a nível mundial, mas uma desgraça maior para a Venezuela, por esse mar de carências praticamente em todos os âmbitos", desabafou em uma oportunidade à Agência Lusa.

Mendonça mostrou-se preocupado, várias vezes, pelas carências da comunidade lusa local e pela situação de insegurança no país, chegando mesmo a afirmar que "a pior desgraça da Venezuela é que estamos destruindo, não estamos construindo, e até que não se reencontrem todos como um só povo haverá realmente situações muito difíceis".

O sacerdote alertava ainda que a situação polarizada, com discursos extremados entre os apoiantes do governo e da oposição, aumentava o caos no país.

Devoto de Nossa Senhora de Fátima, Mendonça, abriu as portas da Missão Católica Portuguesa para acolher dezenas de compatriotas que perderam as suas casas e familiares durante as enxurradas de finais de 1999 no estado venezuelano de Vargas.

Durante mais de 15 anos foi mentor de Campo Rico, uma paróquia popular de gente muito pobre e exerceu funções como ecónomo do arcebispado de Caracas, diretor da Casa Sacerdotal (que acolhe sacerdotes doentes) e capelão de vários organismos de segurança pública venezuelanos.

Em dezembro de 2016, o arcebispo de Caracas, Jorge Urosa Savino (1942-2021), conferiu-lhe o título honorífico de cónego

Em junho de 2019, foi condecorado com a Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas, durante em ocasião do Dia de Portugal, aproveitando a ocasião para apelar aos lusitanos a dar atenção aos mais vulneráveis, em particular os anciãos luso-venezuelanos.

Mendonça foi condecorado como comendador da República de Portugal (1997) e com a ordem Cecílio Acosta em primeira classe (1999) pelas autoridades do Estado de Miranda (Venezuela). Em 2006 foi declarado "madeirense ilustre" e agraciado com uma medalha e um galardão pela Comissão Pró- Celebração do Dia da Região Autónoma da Madeira em Caracas.

Presidiu a Fundação Virgem de Fátima e foi assessor do Movimento Sacerdotal Mariano. Também foi guia espiritual de associações de beneficência e colégios, do Centro Português (Macaracuay) e do Centro Marítimo da Venezuela (Turumo).

Também recebeu a Cruz da Polícia Metropolitana de Caracas, em segunda e terceira classe.

Em 2006 foi condecorado pelo Centro Português de Caracas com a Ordem Grande Cordão João Fernandes de Leão Pacheco.

O DIÁRIO endereça sentidas condolências a toda família de Alexandre Mendonça e envia um abraço fraterno a toda a comunidade na Venezuela. Foram várias as ocasiões em que fruto de diversas iniciativas celebramos a fé e a portugalidade com a benção do padre madeirense. O Correio da Venezuela, jornal da comunidade naquele País, já  partilhou uma nota de pesar:

A morte de Alexandre Mendonça também já motivou outras mensagens, nomeadamente das entidades regionais, como pode ler na nossa plataforma digital, com destaque para a que foi partilhada esta manhã por Miguel Albuquerque.

A Diocese do Funchal também manifestou "com tristeza, a notícia do falecimento do padre Alexandre.

Neste momento de luto, mas também de esperança em Deus que é Vida e Ressurreição, a Diocese envia à família enlutada e a toda a comunidade os nossos sentimentos e ao mesmo tempo convida à oração. Agradece a Deus o dom da sua vida e toda a sua missão para bem de todo o povo de Deus e toda a atenção manifestada aos nossos emigrantes na Venezuela. Nota da Diocese do Funchal