Crónicas

O desespero da falta de colaboradores na hotelaria

São 380 mil desempregados em Portugal e tanta necessidade de mão de obra no Turismo

Com o crescente número de vacinados por esse Mundo fora e a consequente e gradual normalização das nossas vidas, o regresso em força do turismo não se fez esperar. Era aliás expectável que as pessoas, cada vez mais habituadas a viajar, a jantar fora ou a organizar escapadinhas de fim de semana sentissem a falta de tudo isso que lhes foi retirado nos últimos (quase) dois anos. Ora, não era sequer preciso ser vidente ou ter uma bola de cristal para adivinhar aquilo que todos os indicadores já nos mostravam, que Portugal continua a ser um dos destinos mais apetecíveis e desejados a nível internacional, que não saiu da cabeça dos turistas e que por isso, rapidamente, voltou a números próximos do período pré pandemia. O problema é que para conseguir dar resposta a toda esta procura são precisos recursos humanos. Muitos. E muitos que se perderam durante a pandemia, vítimas dos encerramentos e restrições no setor, que obrigou a cortes substanciais e em alguns casos a despedimentos coletivos. Alguns foram para o subsídio de desemprego, outros (imigrantes) devido à falta de emprego regressaram aos seus países e a terceira fatia deslocou-se para outras áreas menos suscetíveis quanto às consequências do Covid-19.

Não deixa de ser impressionante que por onde quer que tenho passado, de Lisboa ao Algarve, da Madeira a Fátima, o desespero seja praticamente igual. Unidades hoteleiras que não conseguem abrir toda a sua capacidade por falta de quem faça a limpeza dos quartos, restaurantes com défice de empregados de mesa, discotecas sem barmen e muitos exemplos mais que tenho visto e ouvido. Os problemas são diversificados e já vinham de trás mas agudizaram-se com a pandemia. A começar pelos salários e pelas condições de trabalho. Continua a pagar-se pouco e em alguns casos a exigir-se muito o que determina o êxodo por exemplo para os Ubers e as Glovos desta vida onde cada um determina quanto trabalha. Mas é também o reflexo de um País onde estar no desemprego por vezes compensa mais do que estar a trabalhar e onde por uma questão de estatuto social as pessoas não se prestam a fazer certo tipo de serviços para não mexer no seu orgulho preferindo passar por algumas dificuldades. Recebe-se um subsídio, ainda se fazem umas horas “por fora” em determinado sítio e vai-se aguentando o barco.

Queixava-se há dias uma amiga que se diz atriz mas que realizou meia dúzia de peças de teatro em 15 anos, que faz um ou outro trabalho de publicidade e apareceu como figurante numa novela, de que a vida estava difícil, que por vezes nem saía de casa por falta de dinheiro e que também por isso tinha deixado um pouco de lado a vida social. Perguntei-lhe porque não tentava a recepção de um hotel ou algum trabalho num restaurante enquanto não arranjava um trabalho na sua área. Ficou ofendida e escandalizada porque esse tipo de trabalhos não se enquadravam no seu estatuto. São 380 mil desempregados em Portugal e tanta necessidade de mão de obra no Turismo. É fundamental por isso que os salários se comecem a adequar ao trabalho desempenhado, que sejam justos, mas para isso é fundamental também existir uma subida de produtividade. Sem crescimento económico e sem produção, não existe melhor emprego nem melhor salário. Acho também que tal como disse o Presidente do Governo Regional deveria existir uma alteração na lei para que pessoas que usufruem do subsidio de desemprego não possam recusar postos de trabalho sob pena de perderem o subsídio mas com a ressalva de que essas ofertas de emprego cumpram alguns requisitos e que respeitem e dignifiquem o empregado com condições justas avaliadas previamente.

O que é certo é que o problema da falta de colaboradores na hotelaria tem de ser resolvido sob pena de perdermos a fama que tantos anos demorámos a construir. Um enquadramento das condições de trabalho com a exigência de que não se pode estar a usufruir de subsídios quando existem ofertas justas e adequadas à pessoa. Ou então o melhor mesmo é começarmos a construir escolas hoteleiras nos Países Africanos de Língua Portuguesa, formá-los lá e convidá-los para virem para Portugal com contratos de trabalho, ( estão lá muitos desejosos de vir ), mas que também aí se assegurem condições dignas. Até se pode oferecer a formação, paga pela empresa, com a obrigatoriedade de cumprir um mínimo de anos no empregador e se decidirem ir para outro lado terão que devolver o dinheiro da formação. O que não pode acontecer é continuarmos a ter tantos turistas com vontade de conhecer os nossos destinos únicos e depois saírem defraudados ou com a falta de serviço ou com oferta deficiente e tantos negócios a precisarem de faturar e não existir ninguém que desempenhe as funções necessárias.