FMI alerta que os riscos orçamentais "são elevados" em todo o mundo
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que "os riscos para as previsões orçamentais são elevados" por todo o mundo, advertindo que a rápida distribuição de vacinas contra a covid-19 atenuaria o problema, segundo o Monitor Orçamental hoje divulgado.
"Os riscos para as perspetivas orçamentais são elevados. Um aumento da produção e entrega das vacinas, especialmente nos mercados emergentes e nos países em desenvolvimento e de baixos rendimentos, limitaria maiores danos para a economia mundial", pode ler-se no primeiro capítulo do Monitor Orçamental, hoje divulgado.
Segundo o FMI, a dívida pública mundial atingirá os 97,8% em 2021 e permanecerá em redor dos 96% até 2026, ao passo que o défice orçamental mundial estará nos 7,9% este ano e baixará até aos 3,5% em 2026.
O documento hoje conhecido, elaborado pelo departamento de Assuntos Orçamentais do FMI, dirigido pelo antigo ministro das Finanças português Vítor Gaspar, adverte que os riscos descendentes se prendem sobretudo com a evolução da pandemia.
"Novas variantes do vírus, baixa cobertura por vacinas em muitos países e demoras na aceitação da vacinação por parte de algumas pessoas poderiam infligir novos danos e aumentar a pressão nos orçamentos públicos", refere a instituição internacional.
O organismo sediado em Washington refere ainda que "a concretização de passivos contingentes -- incluindo de programas de garantias e de empréstimos -- pode também levar a aumentos indesejados na dívida pública".
"Mais pressões podem vir também do descontentamento social, estimando-se que a crise tenha atirado entre 65 e 75 milhões de pessoas para a pobreza em 2021, em relação à tendência pré-pandemia", pode ler-se no texto.
Para o FMI, as "grandes necessidades de financiamento público são uma fonte de vulnerabilidade, especialmente nos mercados emergentes e países de baixos rendimentos e em desenvolvimento, onde as condições de financiamento são sensíveis às taxas de juro mundiais e os bancos centrais começaram a aumentar as taxas de referência de curto prazo".
"A política orçamental terá de responder agilmente a estes desafios e facilitar a transformação da economia mundial para a tornar mais produtiva, inclusiva, verde e resiliente para futuras crises de saúde ou outras", defende a instituição liderada por Kristalina Georgieva.
Para tal, e para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o FMI defende que "a cooperação internacional é vital para abordar a desigualdade entre países na disponibilidade de vacinas, tratamentos, terapêuticas e equipamentos de proteção".
O FMI sugere ainda o "investimento público em capital físico de alta qualidade, educação e cuidados de saúde" em muitos países, bem como uma calibração da política orçamental ao "ciclo e velocidade da recuperação", bem como combinar com a política monetária.
Os economistas da instituição calculam ainda que os planos de recuperação económica da União Europeia e dos Estados Unidos, em conjunto, adicionem 3,9 biliões de euros ao Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2021.
"Cerca de 16% deste aumento, ou cerca de 0,7% do PIB mundial, corresponderia a efeitos internacionais" fora das áreas geográficas mencionadas, sendo "sobretudo fortes nas exportações", denota o FMI, com o "investimento mundial também a crescer, mas mais gradualmente".
O FMI alerta, no entanto, para que o espaço de manobra é "incerto", devido à "evolução da pandemia e as suas implicações sociais e económicas".
"Neste contexto, a política orçamental pode reduzir a quantidade de danos de curto prazo e as cicatrizes de médio prazo provenientes da crise. O tamanho e a composição das medidas fiscais vai depender nos diferentes estádios da recuperação económica bem como nas características específicas dos países", diz o FMI.