Binter não serve o Porto Santo
Os problemas com as bagagens ocorridos no voo da Binter deste domingo de manhã entre o Porto Santo e o Funchal constituem mais uma prova de que esta companhia não serve o Porto Santo, antes se serve dele.
Factos: o voo NT 932 do dia 10 de outubro, com saída prevista para as 8h30, só largou a pista às 8h55 devido a problemas com o acomodamento das bagagens dos 80 passageiros que lotavam, por completo, o avião. Não é muito comum as viagens aéreas entre ilhas do arquipélago esgotarem, mas a exceção deste voo explica-se pelo fim, na véspera, do Campeonato do Mundo de Fotografia e Vídeo Subaquática, tendo dezenas de participantes estrangeiros aproveitado o voo matutino para regressarem aos seus países de origem.
Tudo aparentemente normal, não fora o visível nervosismo e a desorientação dos funcionários da Groundforce, motivados pela desproporção entre a quantidade de bagagens e a capacidade de carga do avião da Binter. Corrupio geral à volta do avião. Todo o pessoal de terra procurava ajudar os bagageiros, mas não havia solução. O tempo passava e não havia maneira de encaixar tantas bagagens em espaço tão exíguo, perante a incredulidade e desespero dos passageiros.
Com o tempo a avançar e face à impossibilidade de resolver o problema, o comandante decidiu partir.
Resultado: 49 bagagens (dado colhido na conversa entre as duas funcionárias dos perdidos e achados, já no Funchal) ficaram para trás. A opção parece ter sido dar prioridade às bagagens dos estrangeiros com voos de ligação internacionais, em detrimento de quem ficava no Funchal e dos nacionais que seguiam para o continente.
Quanto a informação prestada pela companhia: nenhuma.
Face aos acontecimentos, impõe-se uma pergunta:
- Os aviões a operar entre ilhas não têm capacidade de carga para as bagagens dos 80 passageiros que podem transportar ou, no caso concreto, optou-se pela faturação suplementar dos eventuais volumes de excessos de carga, sem atender à capacidade do avião e aos direitos dos passageiros que pagaram uma das mais caras passagens aéreas do planeta?
Não me espanta o instinto voraz de uma companhia criada para dar lucro, mas espanta-me a passividade com que responsáveis políticos e cidadãos, em geral, assistem à prepotência de um prestador de serviço público principescamente pago pelo Orçamento de Estado, ou seja, por todos os contribuintes portugueses.
Francisco Oliveira