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Venezuela acusa Inglaterra de financiar a imprensa e organizações da oposição

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A Venezuela acusou, ontem, a Inglaterra de estar a efetuar "grosseira ingerência" nos assuntos internos venezuelanos e de financiar a imprensa local e organizações da oposição, denúncia que será elevada perante a Organização das Nações Unidas (ONU).

A denúncia foi feita pelo ministro venezuelano de Relações Exteriores, Jorge Arreaza, depois a estação televisão venezuelana Globovisión e de jornalistas do portal web "Misión Verdad" (MV, Missão Verdade) acusarem Londres de financiar a imprensa e organizações não governamentais venezuelanas.

"Denunciamos a grosseira ingerência do governo do Reino Unido nos processos internos da Venezuela. Enquanto sequestram o ouro venezuelano necessário para atender a covid-19, eles financiam a imprensa e organizações de oposição. Elevaremos esta denúncia às Nações Unidas", escreveu Jorge Arreaza na sua conta do Twitter.

Na sua página web, a Globovisión publica um documento que diz ser "oficial" e que comprova que o portal web venezuelano "Efecto Cocuyo" (Efeito cocuyo, nome dado a um inseto que produz luz azulada durante a noite) teria recebido um milhão de dólares norte-americanos, equivalente a 920 mil euros.

Segundo o MV, Londres tem em curso dois planos encobertos para desestabilizar o Governo da Venezuela. O primeiro é um programa que propõe cobertura de até 250.000 libras esterlinas (quase 280.000 euros) para setores do jornalismo para "influenciar as agendas da imprensa venezuelana regional e nacional".

O segundo, um programa de "promoção da democracia" que o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido está financiando através da Fundação Westminster para a Democracia. Desde 2016, foram desembolsadas 750 mil libras esterlinas (quase 840.000 euros) ou seu equivalente em dólares, mais de 1 milhão, em operações discretas enquadradas neste programa", explica.

Os pormenores das atividades teriam sido divulgados por jornalistas do portal Declassified UK (fundado em 2019) por Matt Kennard e Mark Curtis, que investigam "os esforços falidos do Reino Unido para promover um câmbio de regime contra o Governo do Presidente Nicolás Maduro na Venezuela".

A divulgação do documento tem lugar depois de em dezembro último, foi adiado, até que um aspeto jurídico seja resolvido no Supremo Tribunal britânico, o julgamento sobre quem controla as reservas de ouro da Venezuela depositadas no Banco da Inglaterra.

Em causa está saber se é o Presidente venezuelano Nicolas Maduro ou o autoproclamado Presidente interino Juan Guaidó quem controla as reservas de ouro.

A juíza Sara Cockerill, da Divisão de Comércio e Propriedade do Tribunal Superior de Londres [High Court], suspendeu o processo, devido ao recurso apresentado pela administração interina do Banco Central da Venezuela nomeada por Guaidó no tribunal de última instância britânico.

A magistrada disse que o recurso pode demorar "até dois anos" até ser analisado o caso voltar ao Tribunal Superior, que tem de decidir qual dos dirigentes controla o acesso às 31 toneladas em barras de ouro, avaliadas em cerca de 1.300 milhões de dólares (1.100 milhões de euros), depositadas no Banco da Inglaterra.

Nick Vineall, que representa o governador do BCV, Calixto Ortega, nomeado por Maduro, argumentou neste processo que, embora Londres reconheça Juan Guaidó 'de jure' (na lei), lida na prática com Maduro, que é quem controla as instituições na Venezuela e, portanto, deve ser este quem deve ter poder sobre o ouro.

Nicolás Maduro, sucessor de Hugo Chávez, está no poder desde 2013, mas o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, autoproclamou-se Presidente da República interino em janeiro de 2019 e conta com o apoio de cerca de 60 países, incluindo o Reino Unido.

Maduro disse pretender transferir parte das reservas de ouro para um fundo da ONU para serem utilizadas no combate à covid-19 no país sul-americano.

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