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Porque apoio Marcelo Rebelo de Sousa

Em certos homens, a lucidez, de tão aguçada é como um excesso de inteligência

A chamada “liberdade” é a nossa condenação e também o fundamento do que nós consideramos a nossa dignidade racional. Nas suas origens gregas, o termo não se referia a nenhuma condição metafísica oposta ao determinismo natural, mas designava a situação social de quem não era escravo e, por isso, podia movimentar-se ou actuar segundo a sua vontade sem obedecer a um amo: ou seja, desfrutava da possibilidade de escolher.

Também para compreender hoje o que entendemos por “liberdade” (e para educar no seu bom uso) deveríamos, em primeiro lugar, analisar cuidadosamente o que significa e supõe a capacidade de escolha.

Por isso, a importância de enfrentar melhor o nosso destino humano nas circunstâncias actuais: a verdade e o prazer, a política e a educação cívica, a menosprezada virtude da humanidade e a aceitação humilde da nossa contingência.

Neste sentido, o surgimento de novas formas de egoísmo e da perda de sentido social mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais não são mais que discursos de ódio associados a regimes políticos populistas e a abordagens económico-liberais que defendem a necessidade de evitar a todo o custo a chegada de pessoas migrantes.

O Papa Francisco na sua nova encíclica, Fratelli Tutti considera essencial pensar a participação social, política e económica, de forma a incluírem movimentos populares e lamenta a “intolerância e o desprezo perante as culturas populares indígenas”.

Referindo-se especificamente às plataformas digitais e redes sociais, mostra-se preocupado com as manifestações de ódio e destruição aí propagadas, e com o visível aumento de formas insólitas de agressividade, com insultos, impropérios, difamações, afrontas verbais.

Estou seguro de que não há comunidades livres sem exercício permanente, consequente e publicamente assumido da política. Mais concretamente, sem a defesa de ideias políticas argumentadas que qualquer um possa subscrever ou recusar. Uma ideia política é uma forma de fazer, não uma forma de ter.

Mas, por quê optar por fazer política, por quê intervir nos assuntos colectivos com vontade de transformação social, em vez de nos contentarmos com a perseguição dos interesses privados, tentando maximizar as vantagens e diminuir os inconvenientes que o sistema estabelecido representa para a nossa vida pessoal? Em primeiro lugar, escolher a política é aspirar a ser sujeito de normas sociais pelas quais se rege a nossa comunidade, não simples objecto delas. Numa palavra, levar-se conscientemente a sério a dimensão colectiva da nossa liberdade individual. A sociedade não é o ornamento irremediável da nossa vida, como a natureza, mas um drama no qual podemos ser protagonistas e não só comparsas. Mutilar-nos da nossa possível actividade política inovadora é renunciar a uma das fontes de sentido da existência humana. Viver entre seres livres, não meramente resignados nem cegamente desesperados, é um enriquecimento subjectivo e objectivo da nossa condição. Além disso, aumenta os benefícios que cada um obtém das instituições e leis, melhorando por isso a sua aquiescência racional a elas, que é uma garantia de segurança colectiva. Quanto maior é o equilíbrio de uma comunidade, a sua justiça, o reconhecimento que concede às exigências razoáveis dos seus membros e à diversidade dos seus projectos, mais seguro é viver nela.

Por isso, escolher a política é o passo pessoal que cada um pode dar, a partir da sua aparente pequenez que não renuncia a procurar companheiros e cúmplices para obter o melhor que for possível face às fatalidades supostamente irremediáveis.

Entre escolhas e opções, uma eleição para Presidente da República é um acto singularíssimo. No quadro constitucional português o sufrágio directo é um elemento fundamental na escolha presidencial por respeitar o equilíbrio de poderes e o compromisso institucional. É algo que faz parte do código genético da nossa Lei Fundamental. Entre as virtualidades do nosso sistema este é um factor importante, que o tempo tem demonstrado ser decisivo para o valor da estabilidade e para a preservação de uma cidadania plural e legítima.

Situado entre o tempo do acontecimento e o tempo da História, o instante e a sua cristalização, a presença das coisas e o seu entendimento emerge a entrega de um homem à vida política – devoção de carácter quase religioso – e daqueles que a ela se dedicam, sem esquecer o alento moral que os determina.

É este fascínio pelos grandes destinos políticos feitos de rasgos e intuições, ambições e rivalidades, provocações e rupturas, zonas de sombra e luz, que se reconhece ter sido a motivação determinante desta “aventura” feita no frenesim da acção.

Sempre procurei em Marcelo o eco das minhas próprias obsessões: Um caminho e uma redenção.

Em poucas situações como esta, terá sido tão necessário um esforço de convergência nacional para enfrentar as consequências da crise sanitária, económica e social e financeira que marcarão o nosso futuro colectivo nos próximos anos.

Intelectual, católico, académico e político, Marcelo personifica, de certo modo, a síntese das contradições do nosso tempo.

Como quer que seja, Marcelo apresenta, em elevado grau, uma forma de probidade ou de tolerância que é vontade de entender anterior à ambição de querer. Ser livre é também reconhecer-se livre de agir em liberdade. Porque o que está em causa é cuidar de fundamentar e definir o pensamento e a acção a fim de os tornar coincidentes – a lembrança do que somos com o que queremos ser.

Toda a acção de Marcelo é disso exemplo, paixão solitária, sinal de virtude e de grandeza, tão difícil de cumprir em tempos descontínuos como o nosso, em que a acção é breve e as mascaras da mentira fronteiriças da verdade.

Em certos homens, a lucidez, de tão aguçada é como um excesso de inteligência.

Nestes pressupostos decorre e se inscreve a sua filosofia de acção, a sua hierarquia de valores e, o que é mais, a fidelidade a si mesmo. O desafio e o testemunho.

O que há em Marcelo não é tanto o receio de se deixar aprisionar, mas o gosto de livremente assumir uma vocação de solitário.

Marcelo é o contrário de um céptico. Pessimista, é certo, mas não descrente, porque acima de tudo homem de liberdade e de convicções, ciente apenas de que as vitórias, se não querem deixar de o ser, estão condenadas a repetirem-se.

Estilo linear na precisão vocabular, didáctico quase de tão despojado, que é, ainda e sempre, predomínio da inteligência.

Resta-nos descobri-lo novamente à luz clara e clarividente do seu espirito. Precioso auxílio em tempos que escurecem.

Neste sentido, Marcelo Rebelo de Sousa é o candidato que reúne melhores condições para, como Presidente da República, unir a sociedade portuguesa para melhor relançar um futuro de desenvolvimento económico e mais justiça social, ancorado na União Europeia e no cumprimento da Constituição da República.

Estas são as razões pelas quais tem o meu apoio e, estou certo, da grande maioria de todos os portugueses.

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